domingo, 19 de julho de 2020

Os corações

Como se consagrar ao Sagrado Coração de Jesus

            O coração é um órgão corporal presente em muitos animais, inclusive no homem. Mas há também outros sentidos de se falar em coração. Há o sentido de centro espiritual da afetividade humana e também aquele do íntimo do homem, como que o mais profundo de seu ser. Queremos falar hoje deste último caso e de certos tipos de coração que conseguimos encontrar: dois que já conhecemos, o de pedra e o de carne, mas também um outro, que parece estar entre os dois: o de metal. O nosso objetivo deve ser sempre ter um coração de carne, como o de Cristo e como aquele que Deus prometeu a Israel no lugar dos seus corações de pedra. Mas este objetivo é árduo e só pode ser alcançado com o auxílio da graça e, na sua busca, devemos lutar para não desenvolvermos corações de pedra ou, como o que falei, de metal.
            Analisemos, primeiro, a temperatura dos corações. Aquilo que é quente não está preocupado em absorver calor, mas em doá-lo àquilo que está próximo. Assim é o Coração de Jesus: Fornalha Ardente de caridade, como rezamos na ladainha. Ele, a despeito de todo o desprezo que recebe daqueles que está ao seu redor, procura sempre partilhar o que tem com eles, que é a Sua própria vida divina. Conosco é assim, também. Apesar de todos os nossos pecados, de nossa frieza, Nosso Senhor quer sempre dar o Seu calor para nós, partilhar conosco Sua vida. Na física, quanto maior a diferença de temperatura entre dois corpos, maior o fluxo de calor entre eles; e na nossa relação com Deus, quanto mais distantes estamos Dele, quanto mais frio está o nosso coração, mais Jesus quer dar a nós o Seu amor, quer nos fazer participar do amor que Ele tem por Deus Pai. Esta é a caridade, simbolizada pelo calor do coração: o desejo de em tudo agradar a Deus, de tudo referir a Ele. E é esta caridade que o Coração de Cristo quer comunicar àqueles que se aproximam Dele.
            E quanto aos movimentos do coração? O coração bate para dar a vida ao corpo inteiro, trabalhando incessantemente para que não falte sangue a nenhum órgão e que este não venha a desfalecer. O Coração de Cristo é a fonte de vida do Seu Corpo Místico: a Santa Igreja. Ele trabalha incessantemente para levar a graça divina a cada membro do Seu corpo, para que nenhum se separe de Deus, para que nenhum perca aquele calor, aquela caridade de que falamos acima. Jesus não se conforma em apenas desejar aquecer o que está frio, mas Ele trabalha incessantemente para manter aquecidos aqueles que estão em comunhão com Ele.
            O Coração de Jesus não é duro como uma pedra, que se quebra em mil pedaços se for golpeada, deixando apenas poeira para trás. Não: Ele é um coração de carne, do qual, quando golpeado, jorraram sangue e água. É o Coração sensível que encheu-se de compaixão pela morte de Seu amigo Lázaro e pelas misérias de tantas pessoas que encontrou no seu caminho e que continua a encher-se de compaixão pelas nossas misérias. Cada dor Sua teve como resposta rios de misericórdia; cada “pancada” que as misérias alheias lhe davam, devolvia com atos de amor.
           Falamos, até agora, do Coração amabilíssimo de Nosso Senhor, o qual devemos buscar imitar. Mas e quanto aos outros dois tipos? Com um nós já temos certa familiaridade: o coração de pedra. Este é duro, frio e imóvel. Não se preocupa com nada nem com ninguém além de si próprio, não buscando compartilhar nada do que é seu, não movendo um dedo para a edificação daqueles que estão ao seu redor e muito menos se compadecendo das misérias alheias. Deste nós sabemos que devemos fugir a todo custo. Mas o que seria o coração de metal?
            Vejamos como são as máquinas de metal. Elas são frias, embora possam superaquecer em alguns momentos, duras e, diferentemente das pedras, tem um movimento que simula o de algo vivo. Assim são os nossos corações muitas vezes: frios, não querendo partilhar nada com ninguém, apenas receber o que lhes apraz; duros, indiferentes às misérias alheias; e aqui está o que pode nos iludir: movem-se com certa artificialidade semelhante à dos corações de carne. Infelizmente, talvez seja este o estado da maioria dos corações dos cristãos em estado de graça. Não estão completamente mortos, pois para uma máquina se mover é preciso energia, que podemos dizer que seja a graça divina, mas os seus movimentos não são os de homens caridosos que querem em tudo fazer a vontade de Deus. Muitos estão ainda encharcados de amor próprio e o cumprimento da lei para eles não passa de um movimento exterior e artificial, visando sempre fazer o mínimo necessário para a própria salvação e depois dispersar-se no próprio egoísmo. É a triste tibieza. É comum passarem pela inquietação dos escrúpulos, pois, buscando apenas o mínimo necessário, se sentem sempre por um fio de não o terem feito; inquietam-se com o menor “defeito em seus circuitos” ou com o menor amassado na sua carapaça de metal, que geralmente é muito difícil de se consertar por completo, devido a dureza do material, porque estão ainda muito apegados a si mesmos e não tomaram a decidida decisão de entregar a vida a Cristo.
            Como é triste e frustrante a nossa vida quando estamos neste estado... E ao contrário, como é feliz viver só para Deus! Não nos frustramos mais com nossas misérias: a humildade que Cristo partilha conosco nos faz vê-las em paz e pouco olhar para elas, mas mais para Aquele que pode curá-las. Nossos trabalhos e orações não nos são pesados, embora possam ser sofridos, porque a caridade de Cristo que nos impele faz com que queiramos aquilo que Ele quer.
Enfim, torna-se feliz a nossa vida quando visamos somente a Deus. Quando o fazemos, nosso coração se aquece de tal modo que vê Deus em tudo e sua contemplação o faz feliz e desejoso de partilhar com os homens o calor que recebeu de Deus e, por isso, logo se põe a bater forte, trabalhando com ardor no serviço a Jesus e aos seus semelhantes. Também nosso coração se torna capaz de compadecer-se das misérias alheias e quer fazer tanto quanto o possível para consolá-las; inclusive, busca consolar o Sagrado Coração que tanto sofre com as ofensas humanas.
E isto, meus amigos, não é coisa de sentimentos. É, sim, coisa de uma razão iluminada pela graça, que consegue saber o que é bom e agrada a Deus e de uma vontade fortalecida por ela, que se esforça para fazer o que a razão a indica, mesmo que seja doloroso ou que seus sentimentos apontem na direção contrária. Isto é amor. Isto é ter um coração cristão autêntico: buscar agradar a Deus em tudo, esforçando-se constantemente para ser mais amigo de Cristo através do cumprimento da vontade de Deus, que é amá-Lo sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Não nos inquietemos se ainda não possuirmos este coração de carne... Nem olhemos em demasia para nosso coração duro. Fixemos, antes, o nosso olhar em Cristo, o Médico Divino, para que Ele trabalhe e conserte as nossas misérias. Olhemos incessantemente para a Santa Beleza que é Deus, para que ela imprima Sua marca em nós, transformando o nosso coração em um coração semelhante ao Seu.
Que Deus converta o meu e o seu coração! Recorramos a Nossa Senhora, aquela que tem o Coração mais semelhante ao de Cristo de todas as criaturas, para que ela clame a Deus por nós, a fim de que Ele transforme os nossos corações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

São José na Sagrada Escritura

  São José é mencionado nos Evangelhos apenas 14 vezes, em cerca de 43 versículos (Mt ...