quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O ANO DE SÃO JOSÉ, PATRONO UNIVERSAL DA IGREJA CATÓLICA

 

O Papa Francisco convocou o ano de São José no dia 08/12/2020, dia da Imaculada, dia em que há 150 anos o Papa Beato Pio IX quis elevar São José à patrono da Igreja universal, anseio este há muito atestado pelo povo e pelo clero. Ao longo deste ano, falaremos sobre quem foi São José, seu papel, sua dignidade, sua honra, suas virtudes.

                                    
                                                   Beato Pio IX (13/05/1792-07/02/1878).

Inicialmente, falaremos sobre o Decreto do Beato Pio IX, Quemadmodum Deus, publicado pela Congregação para os Ritos, hoje a Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos, em que é declarado: “Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos”. Esposo da Imaculada Virgem Maria e pai de Jesus Cristo, que “lhe foi submisso”, o qual “viu, conviveu e com paterno afeto o abraçou e beijou”. Também o “nutriu cuidadosamente” não deixando faltar o pão para Aquele que era o pão descido dos céus. O Papa ressalta que a Igreja sempre teve São José em altíssima dignidade, após apenas da Beata Virgem Maria, e sempre recorreu a sua intercessão em momentos difíceis.

Diante da ameaça de diversas forças inimigas à Igreja (maçonaria, comunismo, modernismo, a queda de Roma e perda dos estados pontifícios), os bispos do mundo inteiro solicitaram e o Papa prontamente atendeu, elevando assim São José à dignidade de Patrono da Igreja Católica, e concedendo que sua festa litúrgica, dia 19 de março, seja elevada a um rito duplo de primeira classe, e quis que este decreto fosse solenemente proclamado no dia 08 de dezembro, dia da Imaculada, à qual São José tanto amou conforme o Espírito diria “amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).  

    Papa Francisco e São José na capela de Santa Marta.

O Papa Francisco quis rememorar os 150 anos da Quemadmodum Deus, com a carta apostólica Patris Corde, na qual ele ressalta alguns aspectos da vida de São José. O Papa nos diz que o chefe da Sagrada Família “era um humilde carpinteiro, desposado com Maria; um homem justo, sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei e através de quatro sonhos; viu o Messias nascer num estábulo, ‘por não haver lugar para eles’ (Lc 2, 7); testemunha da adoração dos pastores e dos Magos; assumiu a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome; ouviu, surpreendido, a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria; para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia; José e Maria, angustiados, durante uma peregrinação a Jerusalém perderam Jesus e O encontraram três dias mais tarde no Templo discutindo com os doutores da Lei”.

O Papa Francisco rememora as contribuições de seus predecessores e acrescenta aquilo que está na abundância de seu coração, realçando na figura de São José todos aqueles que vivem uma vida escondida, contribuindo para o bem do próximo. São destacados 7 pontos do coração de pai do carpinteiro de Nazaré: amor, ternura, obediência, acolhimento, coragem criativa, trabalhador e sombra.

São José como pai amado, “colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico”, usou de sua autoridade legal sobre a Sagrada Família para se fazer dom total de si mesmo, uma oblação sobre-humana à serviço do Messias. Por seu papel sublime, sempre foi invocado como intercessor pelos cristãos de todos os tempos, “Ite ad Joseph” – ide à José – assim como o José do Egito, José o pai terreno de Jesus, é o guardião dos maiores tesouros, Maria e Jesus, e torna-se a “dobradiça entre o Antigo e o Novo Testamento”, o último dos patriarcas.

São José manifestava seu amor pela ternura, viu “Jesus crescer ‘em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens’ (Lc 2, 52), ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer” (cf. Os 11, 3-4). Apesar das suas angústias, temores e fraquezas soube exercer seu chamado confiando plenamente em Deus, que bem sabe usar das nossas fraquezas para realizar seus desígnios. São José ensina-nos a confiar e a aceitar as nossas limitações!

O Pai obedientíssimo de Jesus, acolheu sem protelar os diversos avisos do Anjo. Diante da angústia da gravidez incompreensível de Maria, pode superar seu drama e salvar Maria, pelo seu “fiat”. José e Maria cumpriam todas as prescrições da Lei, e assim ensinaram seu filho, por vezes dando “pleno cumprimento” à ela. Jesus aprendeu na escola de José a ser submisso a seus pais e a sempre fazer a vontade do Pai. De fato, Jesus teve no seio familiar aquilo que tanto procurou, e pouco achou, no coração dos filhos de Israel.

O carpinteiro de Nazaré acolheu Maria, respeitosa e delicadamente, ainda que não entendesse perfeitamente o mistério que se realizara, “soube deixar de lado os seus raciocínios e acolhe o que sucede, reconciliando-se com sua própria história”. A vida espiritual de José manifesta-se no acolher, que não é resignação passiva, mas concretude do dom da fortaleza que o Espírito nos concede, “só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões”. O Papa Francisco nos exorta a acolhermos aquilo que Deus disse a São José: “Não temais”, e assim acolhermos o que não foi planejado, mas existe em nossa vida. “A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele ‘é maior que o nosso coração e conhece tudo’ (1 Jo 3, 20). A verdadeira fé é aquela como a de São José “que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.”

São José diante das dificuldades teve a coragem criativa, semelhante ao dos amigos do paralítico (Lc 5, 17-26), encontrando nos dons que Deus lhe deu a força para encontrar as soluções. José é o “milagre”, o instrumento que Deus usa para salvar o Menino e a Mãe, ele arranja o estábulo, organiza a fuga para o Egito, com o trabalho noite e dia consegue suster a sua família. Deus não nos abandona, ele confia que podemos produzir os frutos a partir das nossas capacidades. Na figura de São José que sempre guardou Jesus e Maria, o Papa nos interpela a refletirmos se como ele, estamos protegendo com todas as nossas forças a Jesus e a Maria. Como? Protegendo a Igreja que é Corpo de Cristo e é perfeitamente figurada em Maria, e também todos os mais pequeninos, migrantes, pobres, o “resto” à que Jesus se configura (Mt 25).

“José, humilde artesão, trabalhaste noite e dia, para não faltar o pão no lar da Virgem Maria”, assim nos diz a canção. José ensina-nos o valor do trabalho, meio de dignamente viver a vida que Deus nos concede e de contribuir com a sociedade, de contribuir para a própria salvação e acelerar a vinda do Reino. O ofício de São José, aprendido também por Jesus nos mostra que Deus “não desdenha do trabalho”, mas o indica como meio para a realização pessoal e o bem comum. São José Operário intercedei pelos desempregados!

Por fim, o Papa Francisco indica em São José a imagem utilizada pelo escritor Jan Dobraczyński, José é a sombra do Pai celeste. Como tal, pode-se atribuir o título de “José castíssimo”, é um homem imbuído de amor, caracterizado pela liberdade, não quer subjugar, dominar, sabe que aquele Menino que tão amorosamente lhe chama de pai e lhe é submisso, não é “seu”, mas do Pai. A lógica de Deus é a do amor, que nos permite até rejeitá-Lo. José em sua vida manifesta a liberdade, o dom de si mesmo.

O Papa Francisco termina rogando a São José a graça da conversão, com esta oração:

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amém.

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