domingo, 6 de setembro de 2020

A única coisa necessária

 


            Depois de um breve período parados, é bom estarmos de volta com os nossos textos! Peço perdão pela ausência durante este tempo. Esta ausência não foi por falta de ideias, tanto que a ideia para este texto estava em minha mente já há algum tempo, mas por dificuldades que encontrei para sentar e escrever. Vamos, então, ao que interessa!

            A maioria de nós já deve conhecer a famosa cena do Evangelho em que Nosso Senhor repreende a agitada Marta e defende sua irmã, Maria, dizendo que “uma só coisa é necessária” (Lc 10,42). O que seria então essa coisa? Digo que é o amor, o amor a Deus e ao próximo em toda a nossa vida e em cada momento dela. Às vezes vivemos uma vida de tantas preocupações que dificilmente nos ocupamos de fato. E às vezes são preocupações não só lícitas, mas boas, como a salvação da nossa alma e a das almas dos outros, ajudar alguém que precisa, fazer alguma obrigação, e tantas outras coisas. O problema é que, se nos deixamos levar por isso, nossa mente fica perturbada e nosso espírito desorganizado: vemos uma imensidão de afazeres e de responsabilidades e não sabemos qual fazer primeiro, então começamos um, paramos e passamos a outro, então voltamos àquele... Assim, nem nosso dia rende, nem nós ficamos saudáveis e a nossa intenção que era servir a Deus não se concretiza. Gostaria de falar sobre isso hoje.

            Disse que é necessário o amor em toda a nossa vida e em cada momento dela. Comecemos pela primeira parte. O que quero dizer com “amor em toda a nossa vida”? Quero dizer que ele deve ser como que um princípio ordenador dela, como que a sua alma. Olhando nossa vida “de longe”, como uma linha cheia de pequenos pontos, devemos pensar no amor como um princípio que une todos os pontos, que os permite permanecer juntos, coesos e apontando numa mesma direção, que é a direção do céu. Assim, todas as decisões que vão moldar esta vida, esta linha, devem levar em consideração o amor e devem deixar que Deus o coloque nela para que ela permaneça uma e harmônica. Todos os nossos planos, os nossos objetivos, as nossas decisões que definem o curso da nossa vida devem ser impregnados de amor, devem ser por amor, com amor e para o Amor. Poderíamos usar uma outra imagem: a imagem de uma orquestra cujo maestro é o amor e a plateia é a Santíssima Trindade. Este maestro deve conduzir todos os instrumentos dando a eles a ordem necessária, mandando-os tocar cada um em seu momento e no devido tom, de acordo com a doce melodia que o maestro quer produzir para agradar a Nosso Senhor.

            Vamos agora para a segunda parte: “o amor é necessário em cada momento de nossa vida”. Se antes nos referíamos ao princípio que ordena a reta que representa a nossa vida, mantendo os pontos coesos, agora nos referimos aos pontos em si. Não adianta termos grandes decisões, grandes propósitos de amar a Deus e ter este princípio ordenador se não damos a ele o que ordenar, se não temos atitudes concretas de caridade. Talvez seja esse o principal ponto para nós hoje. Sabemos todos que o amor de Deus deve ser o nosso Norte, o nosso farol, mas será que, de fato, estamos caminhando para esta direção? Não me refiro aqui às nossas misérias, que são desvios deste caminho e espinho na carne que todos aqueles que amam a Deus têm de sofrer, mas me refiro aos passos concretos que devemos dar na direção que o amor nos aponta. Por exemplo, se dizemos que queremos ser grandes estudiosos por amor a Deus, estamos de fato estudando? Se queremos ser grandes pais, estamos empregando os meios necessários para a educação de nossos filhos nas situações concretas que nos aparecem? É nisso que devemos prestar atenção...

            Agora, se feri alguém com o que acabei de dizer, venho logo trazer o mertiolate, falando ainda do mesmo assunto. Quero falar a todos para que tenhamos muita calma, muita paz e serenidade! Ou vamos acabar sendo repreendidos por Nosso Senhor, como foi Marta, além de desenvolvermos tantas inquietações que pesarão muito em nossa vida. Façamos uma coisa de cada vez. Em cada momento de nossa vida, nos dediquemos ao que o amor nos pede naquele momento. Se vou rezar, que fiquem para lá os estudos, as contas a pagar, até os pecados! Não digo que estas coisas não devem aparecer na nossa oração, porque devem! Mas elas não podem ser o centro. A oração é nosso doce momento de encontro com Deus, é a parte do dia em que buscamos contemplar a Face daquele que nos habita. Não devemos ficar olhando para outras coisas, mas apresentá-las diante de Cristo, com quem estamos conversando. Assim também, quando formos estudar, não podemos pensar naquilo que estudamos e rezar vocal ou mentalmente ao mesmo tempo. Neste caso, devemos oferecer as nossas obras a Deus e nos concentrar nelas, podendo, claro, fazer pausas para contemplá-lo, mas lembrando que aquele é o momento do estudo, do trabalho, que é também importante para Deus, logo merece toda a nossa atenção.

            Voltando à imagem da orquestra, o maestro Amor ordena que cada um dos instrumentos toque a nota certa, no tom certo, no momento certo. Se a flauta tocar na hora do violão ou tocar a nota errada na hora certa, a música vai desagradar aos ouvidos! Por isso, necessitamos, em nossa vida, de ordem, de harmonia para poder amar.

Unidade, harmonia. Uma só coisa é necessária em toda a vida e em toda ela. O amor é necessário em toda ela e, em cada momento, aquilo que o amor exige nele é necessário. O amor harmoniza, unifica todos os instrumentos da orquestra da vida cristã. Ao mesmo tempo, ele exige que sejam feitas coisas tão diferentes e que sejam cada uma a seu tempo: cada músico com seu instrumento e cada instrumento no correto momento da música do amor divino. Não posso fazer tudo ao mesmo tempo, ou a música soará terrivelmente mal. Ao contrário, cada coisa no seu tempo para uma melodia agradável a Jesus.

Deus abençoe a todos! Obrigado por lerem até aqui! Que Nossa Senhora nos ajude a termos ordem em nossa vida!

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