Depois de um breve período parados,
é bom estarmos de volta com os nossos textos! Peço perdão pela ausência durante
este tempo. Esta ausência não foi por falta de ideias, tanto que a ideia para
este texto estava em minha mente já há algum tempo, mas por dificuldades que
encontrei para sentar e escrever. Vamos, então, ao que interessa!
A maioria de nós já deve conhecer a
famosa cena do Evangelho em que Nosso Senhor repreende a agitada Marta e
defende sua irmã, Maria, dizendo que “uma só coisa é necessária” (Lc 10,42). O
que seria então essa coisa? Digo que é o amor, o amor a Deus e ao próximo em
toda a nossa vida e em cada momento dela. Às vezes vivemos uma vida de tantas preocupações
que dificilmente nos ocupamos de fato. E às vezes são preocupações não só
lícitas, mas boas, como a salvação da nossa alma e a das almas dos outros, ajudar
alguém que precisa, fazer alguma obrigação, e tantas outras coisas. O problema
é que, se nos deixamos levar por isso, nossa mente fica perturbada e nosso
espírito desorganizado: vemos uma imensidão de afazeres e de responsabilidades
e não sabemos qual fazer primeiro, então começamos um, paramos e passamos a
outro, então voltamos àquele... Assim, nem nosso dia rende, nem nós ficamos
saudáveis e a nossa intenção que era servir a Deus não se concretiza. Gostaria
de falar sobre isso hoje.
Disse que é necessário o amor em
toda a nossa vida e em cada momento dela. Comecemos pela primeira parte. O que quero
dizer com “amor em toda a nossa vida”? Quero dizer que ele deve ser como que um
princípio ordenador dela, como que a sua alma. Olhando nossa vida “de longe”,
como uma linha cheia de pequenos pontos, devemos pensar no amor como um
princípio que une todos os pontos, que os permite permanecer juntos, coesos e
apontando numa mesma direção, que é a direção do céu. Assim, todas as decisões
que vão moldar esta vida, esta linha, devem levar em consideração o amor e
devem deixar que Deus o coloque nela para que ela permaneça uma e harmônica.
Todos os nossos planos, os nossos objetivos, as nossas decisões que definem o
curso da nossa vida devem ser impregnados de amor, devem ser por amor, com amor
e para o Amor. Poderíamos usar uma outra imagem: a imagem de uma orquestra cujo
maestro é o amor e a plateia é a Santíssima Trindade. Este maestro deve
conduzir todos os instrumentos dando a eles a ordem necessária, mandando-os
tocar cada um em seu momento e no devido tom, de acordo com a doce melodia que
o maestro quer produzir para agradar a Nosso Senhor.
Vamos agora para a segunda parte: “o
amor é necessário em cada momento de nossa vida”. Se antes nos referíamos ao
princípio que ordena a reta que representa a nossa vida, mantendo os pontos
coesos, agora nos referimos aos pontos em si. Não adianta termos grandes decisões,
grandes propósitos de amar a Deus e ter este princípio ordenador se não damos a
ele o que ordenar, se não temos atitudes concretas de caridade. Talvez seja
esse o principal ponto para nós hoje. Sabemos todos que o amor de Deus deve ser
o nosso Norte, o nosso farol, mas será que, de fato, estamos caminhando para
esta direção? Não me refiro aqui às nossas misérias, que são desvios deste
caminho e espinho na carne que todos aqueles que amam a Deus têm de sofrer, mas
me refiro aos passos concretos que devemos dar na direção que o amor nos
aponta. Por exemplo, se dizemos que queremos ser grandes estudiosos por amor a
Deus, estamos de fato estudando? Se queremos ser grandes pais, estamos empregando
os meios necessários para a educação de nossos filhos nas situações concretas
que nos aparecem? É nisso que devemos prestar atenção...
Agora, se feri alguém com o que acabei
de dizer, venho logo trazer o mertiolate, falando ainda do mesmo assunto. Quero
falar a todos para que tenhamos muita calma, muita paz e serenidade! Ou vamos
acabar sendo repreendidos por Nosso Senhor, como foi Marta, além de
desenvolvermos tantas inquietações que pesarão muito em nossa vida. Façamos uma
coisa de cada vez. Em cada momento de nossa vida, nos dediquemos ao que o amor nos
pede naquele momento. Se vou rezar, que fiquem para lá os estudos, as contas a
pagar, até os pecados! Não digo que estas coisas não devem aparecer na nossa
oração, porque devem! Mas elas não podem ser o centro. A oração é nosso doce
momento de encontro com Deus, é a parte do dia em que buscamos contemplar a
Face daquele que nos habita. Não devemos ficar olhando para outras coisas, mas apresentá-las
diante de Cristo, com quem estamos conversando. Assim também, quando formos
estudar, não podemos pensar naquilo que estudamos e rezar vocal ou mentalmente ao
mesmo tempo. Neste caso, devemos oferecer as nossas obras a Deus e nos
concentrar nelas, podendo, claro, fazer pausas para contemplá-lo, mas lembrando
que aquele é o momento do estudo, do trabalho, que é também importante para
Deus, logo merece toda a nossa atenção.
Voltando à imagem da orquestra, o
maestro Amor ordena que cada um dos instrumentos toque a nota certa, no tom
certo, no momento certo. Se a flauta tocar na hora do violão ou tocar a nota
errada na hora certa, a música vai desagradar aos ouvidos! Por isso,
necessitamos, em nossa vida, de ordem, de harmonia para poder amar.
Unidade, harmonia. Uma só coisa é necessária em toda a vida
e em toda ela. O amor é necessário em toda ela e, em cada momento, aquilo que o
amor exige nele é necessário. O amor harmoniza, unifica todos os instrumentos
da orquestra da vida cristã. Ao mesmo tempo, ele exige que sejam feitas coisas
tão diferentes e que sejam cada uma a seu tempo: cada músico com seu instrumento
e cada instrumento no correto momento da música do amor divino. Não posso fazer
tudo ao mesmo tempo, ou a música soará terrivelmente mal. Ao contrário, cada
coisa no seu tempo para uma melodia agradável a Jesus.
Deus abençoe a todos! Obrigado por lerem até aqui! Que
Nossa Senhora nos ajude a termos ordem em nossa vida!
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