Ontem, dia quinze de agosto foi dia
da Assunção de Nossa Senhora, mas comemoramos no Brasil apenas hoje, no domingo
após a data por não ser um feriado nacional e ser uma solenidade tão
importante. A Assunção de Nossa Senhora, mistério que termina a sua vida, está
relacionado completamente com seu início, na sua Imaculada Conceição e com o seu
decorrer que, em santidade, só fica atrás de Nosso Senhor, pelo abismo que há
entre Deus e criatura. Hoje, falaremos especialmente desta santa vivência, que
foi extraordinariamente comum.
Ora, dizer que Nossa Senhora é uma
mulher comum é um grave erro, considerando todos os privilégios que Ela recebeu
da graça divina: sua concepção sem pecado original e uma vida permeada pela
misericórdia preventiva de Deus, que não a deixou cair em pecado algum como
comentava há pouco, e o mais gritante: a maternidade do Filho de Deus, Nosso
Senhor Jesus Cristo. Mas há certa maneira de considerarmos sua vida como comum.
Olhando para o Lar de Nazaré antes do início da vida pública de Jesus, podemos
contemplar a Sagrada Família reunida: Jesus e José trabalhando na carpintaria e
Maria cuidando da casa, preparando o almoço... tudo normal, comum se olharmos
com olhos simplesmente humanos. Nossa Senhora tinha uma rotina de uma judia
comum: rezava, meditava, trabalhava... Quem sabe algumas pessoas que morassem
perto da casa da Família não notassem algo de diferente? Mas, pelo que vemos no
Evangelho, nem a santidade perfeita de Nosso Senhor foi percebida pelos seus
conterrâneos. Logo, torna-se muito difícil que tenha sido Ela percebida.
E qual o ponto em que quero chegar? Em
algo que gosto muito de enfatizar, e que já o foi tanto por grandes santos,
como São Francisco de Sales e São Josemaria Escrivá: a grandeza da vida comum,
da vida cotidiana. O cristão se santifica cumprindo bem os seus
deveres. Para sermos santos, não é preciso fazermos coisas esquisitas. É
verdade que é bem difícil que aqueles que convivem conosco, se procuramos
seguir bem os ensinamentos de Deus e da Igreja, podem nos olhar como
pertencentes a outro mundo, porque de fato, como diria Santo Agostinho, somos
cidadãos celestes vivendo na Terra e aqueles que não o são estranharão nossas
opiniões e nossas escolhas; e isto ainda mais no mundo secularizado e longe de
Deus em que vivemos. Mas, o que devemos evitar é uma certa busca ativa por
parecer diferente dos outros ou ainda certas coisas contrárias à prudência,
virtude necessária para nossa santificação. Isto pode vir ora do orgulho, ora
de certo escrúpulo que nos induz a fazermos coisas que não precisamos e que, às
vezes, nem devíamos.
Eu sou estudante. Se eu tenho uma
prova amanhã, o que eu faço? Estudo para a prova e durmo cedo para descansar
bem ou passo o dia e a noite inteira em oração por causa de uma pretensa
inspiração divina e nem aprender, nem descansar, acabando por me dar mal na
prova? Claro que a primeira opção. Nossa Senhora teve que tomar atitudes como
esta na sua vida de Mãe e foram estas e outras atitudes as que a santificaram.
Claro que ficar de pé junto à Cruz ou ser Virgem até a morte são coisas que
mais nos chamam a atenção, mas a sua vivência cotidiana, seu cuidado com as
pequenas coisas, com o sal que colocaria na comida e com a limpeza da casa
foram também parte de sua vida e parte importante dela, pois foi cumprindo
estes e outros deveres com amor que seu Imaculado Coração, já pleno de graça,
como diz São Gabriel na saudação, foi se dilatando para amar ainda mais a Deus
e foi se preparando para os grandes eventos de sua vida: a Encarnação do Verbo,
o Seu nascimento, Sua Morte na Cruz, Sua Ressureição e Ascenção, o Pentecostes
e, ao fim da vida dela, sua Assunção aos Céus e a sua Coroação como Rainha do
Céu e da Terra.
Falamos de como Nossa Senhora foi
uma mulher comum. Mas por que seria ela a mais extraordinária das mulheres
comuns? Sabemos de todos os seus privilégios, mas do que quero tratar no
momento é da vivência extraordinária da sua vida comum. Como dizia antes, o
cristão se santifica cumprindo bem os seus deveres. Maria, diferente de
nós, cumpriu tudo o que Deus pediu a Ela. E não só cumpriu tudo, mas o
fez com o máximo de perfeição possível, isto é, com o máximo de amor
possível. Ela preparava cada refeição, realizava cada faxina com o maior
amor que poderia dar. Isto não quer dizer que ela colocava grandes pesos
psicológicos e imensa gravidade em cada coisa ou que não parava de pensar em
Deus a cada momento, mas que, com a paz, a serenidade e a alegria que vêm de
Deus ela realizou amorosamente suas tarefas e viveu sua vida. Dessa maneira,
ela foi caminhando a cada dia, a cada segundo, para o Céu. Sua Assunção, ao fim
de sua vida, foi uma síntese dela inteira, vivida toda voltada para o Eterno,
mas vivida na história, no tempo.
Vejam só mais uma coisa que acabo de
me lembrar: Maria foi assunta aos céus, diferente de Jesus que ascendeu.
Isto significa que, nesta síntese de sua vida, ela não subiu aos céus por força
própria, mas foi levada por Deus. Assim também em sua vida cotidiana: ela
dependeu da graça divina para todos os movimentos de amor que realizou em sua
maravilhosa vida. Assim também nós, se quisermos imitar sua perfeição, devemos
empregar todos os nossos esforços como ela o fez, mas confiando sempre na graça
divina e sabendo que, sem ela, sem Deus, nada podemos fazer.
Peçamos no dia de hoje a tão Boa Mãe,
a graça de sermos, como Ela, muito humanos e muito divinos, que Ela nos ensine
a viver como Ela viveu, como bons discípulos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porque
é isto que a devoção à Ela e a contemplação de sua vida deve fazer conosco:
conduzir-nos para Ele.
Deus abençoe a todos! Feliz dia da
Assunção e uma boa semana a todos!