
Pentecostes. Após a Ascensão do Senhor, os apóstolos, junto de Nossa Senhora, permaneceram em oração até o dia de hoje (dando origem à primeira novena da Igreja), quando o Espírito Santo desceu sobre a Igreja nascente. Depois disso, os apóstolos se puseram a pregar, a anunciar a Palavra de Deus e a batizar os homens que se convertiam ao ouvirem e crerem no Evangelho. Que maravilha! Acredito que já dê para imaginar o que quero destacar aqui: a preparação dos apóstolos para a missão através da oração e o seu vigor missionário após a descida do Divino Paráclito.
Oração e ação devem constituir uma unidade na vida de cada cristão. Nem só uma, nem só outra podem esgotar a vivência do Evangelho. Reflitamos, primeiramente, sobre nossa vida de oração. O que é, afinal, fazer oração, rezar? Nada menos que um diálogo com o Senhor. Não devemos encarar nossas orações como uma pesada obrigação para com Deus, mas como um doce diálogo, uma doce conversa com Deus. Não esqueçamos nunca disso... Deus não está simplesmente no seu trono, olhando-nos com desdém quando rezamos, como um rei sádico que quer ver o povo sofrer e adulá-lo antes de "pensar no seu caso", se vai lhe ajudar ou não; Deus está, sim, em seu trono, porque é Rei de todo o Universo, mas nos olha de forma muito afetuosa, muito misericordiosa, inclinando-Se até nós para ouvir-nos como um pai faz com seu filho que lhe fala, como dizia o Santo Cura d'Ars. E vejam: um pai quer seu filho por perto, quer ouvir suas necessidades, tristezas, alegrias, conquistas e quer ajudá-lo ou participar da sua alegria. Agora, se o filho não quer contar ao pai, não ficará este chateado? Assim é com Nosso Pai Deus. Olhemos para nossa oração como um diálogo amoroso com Deus que nos quer por perto e para o sentimento que Ele terá se nós faltarmos a ela; não pensemos na oração, repito, como um fardo, como um peso, mas na maneira que temos de nos aproximarmos de Nosso Senhor. E nós precisamos dela para qualquer coisa. "Sem mim, nada podeis fazer" (Jo 15, 5), diz o Senhor. Se não estivermos unidos a Ele, não daremos frutos, não conseguiremos perseverar. Como os ramos que recebemos no domingo de ramos secam fora da videira (ou da planta de que tiramos), nós também morremos se nos afastarmos do Senhor, ou seja, se deixarmos nossa vida de oração. E os apóstolos perceberam isso. Por isso, ficaram junto de Nossa Senhora, esperando que Deus enviasse seu Santo Espírito, para que, revestidos Dele, pudessem cumprir sua missão de anunciar o Evangelho a toda a criatura. Mas, ao receberem a graça, puseram-se em ação.
Há cristãos que querem ser homens e mulheres de oração. E todos devemos querer. Mas alguns não querem ser nada além disso... É verdade que há vocações na Igreja que são essencialmente contemplativas, ou seja, têm como missão dedicar-se à oração, às vezes também aos estudos, mas, nesse caso, sua missão é essa mesma: sustentar a Igreja, converter os pecadores, fazer descerem as bençãos de Deus através de suas orações. Assim, rezando e fazendo penitência não só por si, mas por todo o mundo, além de alguns outros trabalhos mais ativos que praticam, como a confecção de artigos religiosos, o acolhimento de peregrinos, a direção espiritual, os contemplativos, sejam monges ou eremitas, aqueles ainda se esforçando para cultivar o amor fraterno por aqueles que convivem com eles, servem a Deus e à humanidade. Mas, acredito que ninguém que lê este texto é monge. Então, falemos de nossa vida. Nós estamos no meio do mundo. Não devemos viver, pois, como se não estivéssemos, mesmo que enxerguemos que não é isto que Deus espera de nós. Se for, caminhemos nesta direção, mas não ignoremos o presente, porque a Vontade de Deus no presente é que nos comportemos de acordo com as circunstâncias que Sua providência colocou diante de nós. Ajamos, assim, como autênticos filhos de Deus em nosso próprio estado. Tenhamos boas relações com aqueles ao nosso redor, cumpramos o nosso trabalho, socorramos as necessidades de quem precisa, de acordo com nossas capacidades. Não esqueçamos de São Tiago, falando sobre a fé: "se não tiver obras, é morta em si mesma." (Tg 2, 17) Por isso, mostremos verdadeiro fruto de conversão, como mandava São João Batista, que também prefigurou o Pentecostes, anunciando que Jesus seria Aquele que batizaria com o fogo do Espírito Santo. Lembremos que a graça de Deus deve agir sobre homens concretos e deve deixar uma marca concreta em nossa vida concreta e santificar-nos, elevar-nos para Deus; não é apenas a fonte de consolações. Quantas vezes não buscamos a oração e o trato com Deus simplesmente para sentirmos as consolações Dele... Fujamos disso. Devemos amar o Deus das consolações antes das consolações de Deus, que devem ser amadas também, mas não mais que Aquele de quem provêm. Assim, confiantes na graça de Deus, sejamos fiéis à missão que Ele nos deu e busquemos preparar os corações dos homens para recebê-Lo, através de conversas, de orações, ou de atos simples de caridade. O Divino Espírito conta conosco para isso. Não quer só a nós, mas a toda a humanidade e quer que colaboremos com Ele para que todos os homens o recebam, preparando seus caminhos, como João Batista preparou os de Jesus. Assim, não podemos nos dar ao luxo de viver uma vida medíocre de modo algum. Sejamos esforçados profissionais, estudantes, filhos, pais; sejamos autênticos filhos de Deus, nos esforcemos para refletir Sua face para os homens.
Que Nosso Senhor infunda em nós o Santo Espírito! Que o Divino Paráclito possa aquecer nossos corações e transformar nossa vida numa constante oração, seja nos momentos reservados especialmente para estar com Ele, seja nos momentos em que Ele faz de nós instrumentos de Seu Amor para levar servirmos a Ele e aos homens. Deus abençoe a todos! Um bom domingo de Pentecostes e uma boa semana a todos!