domingo, 26 de abril de 2020

O apostolado na vida cristã

Apóstolo significa enviado. Logo, o apostolado é a ação do enviado. Obviamente, se há um enviado, deve haver o que enviou também e, na nossa vida cristã, sabemos que quem nos chama a ser apóstolos, quem nos envia, é Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas por que fazer apostolado? Por que anunciar o Evangelho? Porque Jesus mandou: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura."(Mc 16, 15) Mas mesmo que Ele não tivesse dado esta ordem expressamente, poderíamos concluir que devemos fazê-lo de um dos mandamentos que Cristo nos prescreve: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"(Mc 12, 31). Nós concluímos a necessidade do apostolado deste mandamento pelo seguinte raciocínio: "Se me amo, me quero bem. Tenho que amar meu próximo como a mim mesmo, então tenho que querer o bem a ele também. Sei que o maior bem que o homem pode ter é possuir a Deus, que é o único modo de ter a verdadeira felicidade. Assim, porque me amo e amo ao próximo, quero o maior bem para mim e para ele, que é Deus. Logo, tenho que 'dar Deus a ele', e o farei a partir do apostolado." Então, se nós realmente amamos o nosso próximo, nós queremos que ele seja cristão católico, que ele usufrua dos meios que Deus nos dá através da Igreja Católica para sermos salvos. Este é um bom ponto de partida. Conheçamos, agora, alguns princípios e alguns tipos de apostolado e algumas dificuldades, tentações ou más compreensões que podemos enfrentar buscando amar a Deus e ao próximo através do anúncio do evangelho.

Primeiro que nosso apostolado não deve ser para nós um peso enorme nas nossas costas por causa da obrigação que temos de praticá-lo. Deve ser, como disse, uma consequência e, na verdade, uma alegre consequência do nosso amor por Deus e pelo próximo, embora não deixe de ser uma real responsabilidade nossa. Isto nós podemos obter de um íntimo relacionamento com Deus, que aliás, é a principal condição para um apostolado autêntico e fecundo. O apostolado é uma superabundância e um transbordar de vida interior, de uma relação de amizade com Jesus. Esta amizade é necessária porque ninguém dá o que não tem e, se não tenho proximidade verdadeira com Nosso Senhor, como aproximarei os outros dEle? Além disso, é essa amizade com Ele que deixa tudo leve e alegre, porque é através dela que Lhe entregamos as nossas penas, dificuldades e preocupações. Se nos pesa demais fazer apostolado ou cumprir os mandamentos ou as outras coisas que exigem uma verdadeira busca de santidade, devemos desconfiar da qualidade da nossa vida de oração: é uma possibilidade estarmos encarando tudo como meras tarefas humanas em vez de atos de amor a Deus ou como se fôssemos meros empregados seus em vez de filhos e amigos. Então, antes de sermos apóstolos, temos de ser amigos de Jesus. Mas é outro erro pensar que só podemos começar nosso apostolado depois de estarmos já em elevados graus de oração, quase que entrando em êxtase. É necessário "arregaçar as mangas" em algum momento porque, na verdade, nossa vida de oração sempre será perfectível e, assim como não há fecundidade apostólica sem vida de oração, nossa intimidade com Deus pouco avança sem que busquemos viver a caridade para com o próximo. Portanto, faz-se necessária a vida de oração para um apostolado autêntico, informado por um verdadeiro amor ao próximo, os atos de amor ao próximo para uma autêntica vida de oração e as duas realidades para o progresso na santidade.

Passemos a considerar, então, a parte mais prática do apostolado. Como posso fazer apostolado, anunciar o evangelho para os homens? Tenho que me tornar teólogo e ter uma retórica impecável? Bom, depende. É bom que todos tenham um certo conhecimento da doutrina da Igreja, na verdade é indispensável, por isso estudamos o catecismo para recebermos os sacramentos. Sem esse mínimo conhecimento, não vou poder viver uma vida cristã autêntica: como vou fazer o que preciso sem saber o que preciso fazer? Então é necessário, sim, um conhecimento básico, ao menos, não só para o apostolado mas mesmo para viver como verdadeiro católico, embora, obviamente, nem todos sejam chamados a ler a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, mesmo que isto seja muito bom. Também não é necessário ter dotes de pregador para todos os empreendimentos apostólicos. Como dizia São Francisco de Sales: "Não tens dotes de pregador? Não te aflijas por isso. Há outro modo de pregar, e muito mais eficaz: o bom exemplo." E, com isso, chegamos num ponto bem interessante. Se o apostolado é mostrar Deus aos homens, não podemos reduzir isso, como muitos parecem fazê-lo, adotando uma visão um tanto intelectualista, ao simples ensino da fé e/ou aos debates com os não crentes sobre os artigos de fé. Vejam: tudo isto é necessário de ser feito, mas o trabalho apostólico não se reduz a isto (e estas coisas devem ser feitas com muita prudência, tendo hora e lugar para se fazer). Ora, Jesus é a Verdade(Jo 14, 6), de fato, mas Deus é Amor(1Jo 4, 16) também. Logo, amando os nossos irmãos estamos também mostrando Deus para eles. Claro que nós devemos querer que todos estejam na verdade, que todos venham para a verdadeira Igreja de Cristo ou não os amaríamos, mas o nosso amor por eles não se reduz a isso: quem ama quer o bem integral do outro, tanto espiritual quanto material e psicológico e amando ao próximo vamos obedecer o mandamento de Deus e obedecendo o mandamento de Deus vamos praticar aquele modo de pregar muito mais eficaz de que São Francisco de Sales falou. Esforcemo-nos, pois, por amar a todas as pessoas, tratando todas bem, socorrendo-as todas em suas necessidades de acordo com nossas capacidades, porque "religião pura e sem mancha é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em suas provações e não deixar se contaminar por este mundo."(Tg 1, 27) E, geralmente, através do amor é que os homens abrem o coração para acolher as verdades eternas e, quando estão com o coração aberto, este é o momento mais propício de anunciarmos a eles mais explicitamente as verdades de fé. Caso contrário, corremos o perigo de jogar pérolas aos porcos. 

E que formas temos de praticar a caridade e exercer o apostolado? Existem vários tipos, alguns que mais visíveis e explícitos como os canais do YouTube ou os blogs(hehehe), mas também há alguns um tanto desconhecidos e quase invisíveis aos olhos dos homens, como  o apostolado da amizade. Basicamente, ele consiste no amor fraterno: conversar, rezar pelo outro, compartilhar alegrias e dificuldades, socorrer o outro num momento difícil do trabalho, do estudo, ouvir os problemas familiares. A amizade tem um caráter de comunicação, que inclui mas não se reduz à conversa, mas é um caráter de dar aquilo que tenho; se eu tiver Deus, se eu viver em estado de graça, posso comunicá-lO, de certa forma, ao meu amigo também! Como disse antes, o amor abre os corações dos homens para Deus. São Josemaria Escrivá fala do "apostolado epistolar", que seria o apostolado das cartas; hoje em dia, não é muito comum escrevermos cartas para as pessoas devido à facilidade que temos em nos comunicar pelas redes sociais. Ora, poderíamos ter como substituto para este apostolado uma espécie de "apostolado da ligação". Às vezes, ligar para alguém e falar algumas bobagens já faz um grande bem para as duas almas e é algo que pode ser feito inclusive neste tempo de pandemia. E cada um pode saber melhor de que maneira pode agarrar os homens para Cristo.

Gostaria, antes de terminar, de alertar para duas tentações que se podem ter ao buscar-se o zelo apostólico. Uma delas é um certo utilitarismo. Sabemos que o bem maior que se pode desejar para alguém é a salvação eterna da sua alma e esta salvação se dá ordinariamente pelos meios oferecidos pela Santa Igreja Católica, o que faz com que desejemos ardentemente a conversão de todos os homens que estão distante delas, porque os amamos e desejamos a eles este bem acima de qualquer outro por ser mais importante que qualquer outro. Como disse acima, devemos amar o nosso próximo e o amor abre seu coração para acolher as verdades eternas. A tentação "utilitarista" de que estou falando é querer se utilizar de uma "amizade" ou de um ato "de caridade" com a intenção de pura e simplesmente de converter as pessoas. Por que as aspas? Porque isto não seria nem caridade nem amizade autênticas. É o amor, e não o fingir o amor que abre os corações das pessoas. É ser amigo, e não fingir ser amigo que aproxima as pessoas de Cristo. Algumas pessoas o fazem por um certo escrúpulo, por uma certa obsessão em converter as pessoas. Daí essa obsessão os leva, mesmo que inconscientemente, a agir apenas em vista deste fim, quase que apenas tolerando o outro para convertê-lo, em vez de enxergá-lo como um presente de Deus. A impressão que se dá é que há uma intenção, mesmo oculta, de querer utilizar as pessoas como que para "contar pontos de apóstolo", para gloriar-se de ter convertido mais alguém, como que se quisesse fazer o apostolado por orgulho. Algo parecido se manifesta num zelo imprudente que se pode observar sem muita dificuldade, especialmente na internet. Muitas pessoas, ao verem qualquer erro ou qualquer pecado se inquietam de tal maneira que não conseguem deixar de corrigir ou de tentar debater, muitas vezes até sem a devida educação que o cristianismo exige. É um zelo imprudente porque não ordena corretamente os meios ao fim. Mesmo que as pessoas tenham, na maioria das vezes, uma boa intenção ao fazer isso, a saber, a conversão das almas, buscam este fim de maneira pouco eficiente, falando coisas que as pessoas não estão abertas ou preparadas para ouvir, jogando pérolas aos porcos(Mt 7, 7).É preciso ter paciência, respeitar o tempo de cada pessoa e lembrar-se sempre da própria humilde condição de criatura humana, limitada e que não consegue atingir a todos e que, mesmo a conversão daqueles que eu atinjo de alguma forma não depende de mim, pois homem algum pode converter outro. Só o Espírito Santo o pode. Assim, tenhamos muita paciência nos nossos empreendimentos apostólicos. Empreguemos um santo fervor, uma firme vontade de espalhar a todos a boa nova, mas lembremos sempre de que não podemos nada sem Deus e que não somos mais que meros instrumentos dos quais o Espírito pode ou não se servir para realizar algo bom segundo Sua própria vontade. Não queiramos mandar nEle, mas façamos tudo segundo a vontade de Deus.

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