quarta-feira, 29 de abril de 2020

Para que cantamos?


Talvez seja para festejar, declarar a um amor, para dançar, ou simplesmente para cantar... Santo Agostinho em uma conversa com seu filho Adeodato, fez esta pergunta “para que cantamos?”, o filho não soube responder e perguntou “para que cantamos papai?” Agostinho respondeu “cantamos para recordar”. O Santo se referia a uma técnica chamada tropo, utilizada para recordar os textos através das melodias e as melodias através dos textos. A música na liturgia tem esta função de recordar, trazer de volta ao coração, lembrar o amor de Deus para com o seu povo e de forma simples e humana, louvar e recordar a Deus o seu amor (mesmo que Ele nunca esqueça!) como diz o salmista “levante-te Deus, nós cantaremos e tocaremos ao teu poder”.
A música sempre esteve presente. Desde o Antigo testamento, o povo de Deus, após ver as grandes maravilhas do Senhor, no episódio da libertação do cativeiro do Egito, cantava para exaltar a grandeza de Deus. Na Santa Missa não é diferente, podemos pensar na oração do Santo. Neste momento o céu e a terra se unem “em uma só voz” para louvar o três vezes Santo (Deus Pai). Aqui já podemos entender o motivo que esta oração quando cantada deve seguir fielmente a oração do Missal.
Já no Novo Testamento, Maria Santíssima, na visita a sua prima Isabel, não poderia se expressar de outra forma: era muita felicidade! Algo grandioso! Uma eternidade dentro do seu ventre! O nosso céu estava nela! A esperança do mundo! Muito maior que a libertação do povo do Egito... Era necessário mais que falar... Era preciso cantar a palavra, então Maria cantou. Não poderia ser de outra forma. É emocionante imaginar que o colo de Maria Santíssima e as suas doces canções, fizeram o menino Deus adormecer. A música é elevada no seu mais alto nível, quando esta embala as coisas do eterno. A música foi feita para o eterno.
A música aquece o coração e ajuda a alma se render ao amor de Deus. Engana-se quem acha que já não há o que refletir sobre a música litúrgica, que os documentos já disseram tudo. Os documentos nos dão orientações que devem ser estudadas e acolhidas com muito zelo, porém, a música sempre refletirá a espiritualidade e a cultura dos seus emissores. Muitos falam “precisamos de boa música nas missas”, ou “a melhor música e do compositor X ou Y, feita no período Z ou pela comunidade D”... Contudo, gostaria de convidar você, caro leitor, a conversarmos não sobre os melhores parâmetros para a música na liturgia, o que daria muita discussão, mas a refletir “qual seria a melhor atitude de um músico?”, mas não um músico comum: um músico católico, que exerce um verdadeiro ministério na Santa Missa e que por meio da sua música busca louvar a Deus e ajudar os irmãos a elevar o seu coração ao Divino.
A atitude que eu gostaria de propor para refletirmos (e precisa ser a primeira, deixar essa para outra colocação pode ser perigoso) é a humildade. Quando chegamos em nossas paróquias, geralmente encontramos pessoas que exercem o serviço na música, e é comum dentro de nossos grupos de liturgia as divergências, principalmente quando ocorre uma correção fraterna. O músico tende a se sentir humilhado... Para isso, é necessário humildade, seja na correção, seja na escuta. A humildade nos ajuda a aprender com o outro, mesmo que este outro aparentemente não tenha nada a me ensinar. A humildade também nos ajuda a enxergar a comunidade que está ali celebrando, fazer coisas tecnicamente difíceis, (a polifonia mais enrolada, o canto gregoriano mais melismático possível...), mas que soe totalmente sem sentido, pode atrapalhar a assembleia, isto é grave! Da mesma forma que cantar músicas que em nada se encaixam para o momento da Santa Missa, em nome de agradar a assembleia celebrante, como se o Cristo não fosse o centro da liturgia, é mais grave ainda! Para isso, meus irmãos, a Igreja nos convida ao bom senso. Mas como ter bom senso sem saber o que os documentos nos orientam? É imprescindível o estudo para entender o Espírito da Liturgia. E para que estudar se faltar a humildade e cair na arrogância  intelectual ao ponto de não ver a Deus nas coisas simples? Coisas estas que muitas vezes nos comovem, mas por orgulho podemos fingir não enxergar a Deus. Enquanto não houver vontade de servir a Deus com uma verdadeira humildade, a Igreja dará caminhos em seus documentos que serão ignorados pela grande maioria dos nossos músicos.
A humildade, os estudos (não só das técnicas musicais, mas dos documentos que nos falam sobre liturgia) e o bom senso nos ajudarão a fazer boas escolhas para melhor celebrar o mistério da Santa Missa... Vale lembrar que em toda Santa Missa celebramos o sacrifício do nosso Santíssimo Redentor, isto nos faz entender que em hipótese alguma podemos pensar a música na Santa Missa como um entretenimento para a assembleia. O Motu Proprio Tra Le Sollicitudini de Pio X, assim como a Constituição Sacrosanctum Concilium do Concilio Vaticano II não deixam dúvidas que é preciso ter PRUDÊNCIA na escolha dos cânticos, estes devem ajudar a alma a alcançar uma verdadeira contrição e se preparar para o encontro com o amado. A Igreja no seu zelo e amor de mãe nos coloca como grande modelo o canto gregoriano que é justamente O CANTO OFICIAL DA IGREJA.
Outra orientação que me parece bem relevante para verdadeiramente conseguirmos cantar a Missa e não cantar na Missa é a observação das antífonas do dia, que podem ser encontradas no Missal... Caso você não saiba manusear o Missal, ou até mesmo não saiba o que é Missal, não se apavore! Peça ajuda do seu pároco ou até mesmo do sacristão, acólito ou coroinha. Cuidado com os “liturgistas”, nem toda a formação litúrgica é segura, cuidado também com a pressa na hora de propor as mudanças. Não fique desanimado caso o repertório que você canta não seja aquilo que a Igreja propõe. Mude aos poucos, com paciência, para evitar o desânimo. Mas não deixe de tentar! Anime o seu ministério para fazer o mesmo: rezar (a primeira mudança é do coração), estudar e aumentar o repertório. Pode parecer difícil no começo, mas com oração, humildade e vontade tudo dará certo. Caso os irmãos paroquianos perguntem “de onde você tirou esse canto?” Nada se chateação ou desânimo! Fale com alegria e humildade que você e seu ministério/grupo litúrgico estão se dedicando a estudar este novo repertório e tenha a paciência de explicar/conversar sobre, assim você ajudará o Povo de Deus a amar e a entender a música litúrgica.
Aconselho o Livro o “Espírito da Música” que é um pedaço de uma obra do Papa Bento XVI, além dos estudos dos documentos: Motu Proprio Tra Le Sollicitudini de Pio X, Carta Encíclica Mediador Dei e Musicae Sacrae Disciplina do Papa Pio XII, Constituição Sacrosanctum Concilium do Concilio Vaticano II. É bom seguir uma ordem, pois vejo pessoas comparando o Motu Proprio Tra Le Sollicitudini com a Sacrosanctum Concilium sem considerar o processo que ocorreu. Isto pode causar interpretações equivocadas.
Para os que têm interesse em se aprofundar na leitura do canto gregoriano (neumas) um livro importante é o de Dom Eugène Cardine Primeiro Ano de Canto Gregoriano e Semiologia Gregoriana. É importante conhecer também a história de Santa Hildegarda, monja da Idade Média e grande compositora, sua vida cristã pode nos ajudar bastante. Que Deus nos ilumine e que “Non nobis Domine, non nobis, sed nomine tuo da gloriam”, “Não a nós Senhor, não a nós, mas ao Teu nome seja dada a glória”.

 Por Taynara Sousa

domingo, 26 de abril de 2020

O apostolado na vida cristã

Apóstolo significa enviado. Logo, o apostolado é a ação do enviado. Obviamente, se há um enviado, deve haver o que enviou também e, na nossa vida cristã, sabemos que quem nos chama a ser apóstolos, quem nos envia, é Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas por que fazer apostolado? Por que anunciar o Evangelho? Porque Jesus mandou: "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura."(Mc 16, 15) Mas mesmo que Ele não tivesse dado esta ordem expressamente, poderíamos concluir que devemos fazê-lo de um dos mandamentos que Cristo nos prescreve: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo"(Mc 12, 31). Nós concluímos a necessidade do apostolado deste mandamento pelo seguinte raciocínio: "Se me amo, me quero bem. Tenho que amar meu próximo como a mim mesmo, então tenho que querer o bem a ele também. Sei que o maior bem que o homem pode ter é possuir a Deus, que é o único modo de ter a verdadeira felicidade. Assim, porque me amo e amo ao próximo, quero o maior bem para mim e para ele, que é Deus. Logo, tenho que 'dar Deus a ele', e o farei a partir do apostolado." Então, se nós realmente amamos o nosso próximo, nós queremos que ele seja cristão católico, que ele usufrua dos meios que Deus nos dá através da Igreja Católica para sermos salvos. Este é um bom ponto de partida. Conheçamos, agora, alguns princípios e alguns tipos de apostolado e algumas dificuldades, tentações ou más compreensões que podemos enfrentar buscando amar a Deus e ao próximo através do anúncio do evangelho.

Primeiro que nosso apostolado não deve ser para nós um peso enorme nas nossas costas por causa da obrigação que temos de praticá-lo. Deve ser, como disse, uma consequência e, na verdade, uma alegre consequência do nosso amor por Deus e pelo próximo, embora não deixe de ser uma real responsabilidade nossa. Isto nós podemos obter de um íntimo relacionamento com Deus, que aliás, é a principal condição para um apostolado autêntico e fecundo. O apostolado é uma superabundância e um transbordar de vida interior, de uma relação de amizade com Jesus. Esta amizade é necessária porque ninguém dá o que não tem e, se não tenho proximidade verdadeira com Nosso Senhor, como aproximarei os outros dEle? Além disso, é essa amizade com Ele que deixa tudo leve e alegre, porque é através dela que Lhe entregamos as nossas penas, dificuldades e preocupações. Se nos pesa demais fazer apostolado ou cumprir os mandamentos ou as outras coisas que exigem uma verdadeira busca de santidade, devemos desconfiar da qualidade da nossa vida de oração: é uma possibilidade estarmos encarando tudo como meras tarefas humanas em vez de atos de amor a Deus ou como se fôssemos meros empregados seus em vez de filhos e amigos. Então, antes de sermos apóstolos, temos de ser amigos de Jesus. Mas é outro erro pensar que só podemos começar nosso apostolado depois de estarmos já em elevados graus de oração, quase que entrando em êxtase. É necessário "arregaçar as mangas" em algum momento porque, na verdade, nossa vida de oração sempre será perfectível e, assim como não há fecundidade apostólica sem vida de oração, nossa intimidade com Deus pouco avança sem que busquemos viver a caridade para com o próximo. Portanto, faz-se necessária a vida de oração para um apostolado autêntico, informado por um verdadeiro amor ao próximo, os atos de amor ao próximo para uma autêntica vida de oração e as duas realidades para o progresso na santidade.

Passemos a considerar, então, a parte mais prática do apostolado. Como posso fazer apostolado, anunciar o evangelho para os homens? Tenho que me tornar teólogo e ter uma retórica impecável? Bom, depende. É bom que todos tenham um certo conhecimento da doutrina da Igreja, na verdade é indispensável, por isso estudamos o catecismo para recebermos os sacramentos. Sem esse mínimo conhecimento, não vou poder viver uma vida cristã autêntica: como vou fazer o que preciso sem saber o que preciso fazer? Então é necessário, sim, um conhecimento básico, ao menos, não só para o apostolado mas mesmo para viver como verdadeiro católico, embora, obviamente, nem todos sejam chamados a ler a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, mesmo que isto seja muito bom. Também não é necessário ter dotes de pregador para todos os empreendimentos apostólicos. Como dizia São Francisco de Sales: "Não tens dotes de pregador? Não te aflijas por isso. Há outro modo de pregar, e muito mais eficaz: o bom exemplo." E, com isso, chegamos num ponto bem interessante. Se o apostolado é mostrar Deus aos homens, não podemos reduzir isso, como muitos parecem fazê-lo, adotando uma visão um tanto intelectualista, ao simples ensino da fé e/ou aos debates com os não crentes sobre os artigos de fé. Vejam: tudo isto é necessário de ser feito, mas o trabalho apostólico não se reduz a isto (e estas coisas devem ser feitas com muita prudência, tendo hora e lugar para se fazer). Ora, Jesus é a Verdade(Jo 14, 6), de fato, mas Deus é Amor(1Jo 4, 16) também. Logo, amando os nossos irmãos estamos também mostrando Deus para eles. Claro que nós devemos querer que todos estejam na verdade, que todos venham para a verdadeira Igreja de Cristo ou não os amaríamos, mas o nosso amor por eles não se reduz a isso: quem ama quer o bem integral do outro, tanto espiritual quanto material e psicológico e amando ao próximo vamos obedecer o mandamento de Deus e obedecendo o mandamento de Deus vamos praticar aquele modo de pregar muito mais eficaz de que São Francisco de Sales falou. Esforcemo-nos, pois, por amar a todas as pessoas, tratando todas bem, socorrendo-as todas em suas necessidades de acordo com nossas capacidades, porque "religião pura e sem mancha é esta: socorrer os órfãos e as viúvas em suas provações e não deixar se contaminar por este mundo."(Tg 1, 27) E, geralmente, através do amor é que os homens abrem o coração para acolher as verdades eternas e, quando estão com o coração aberto, este é o momento mais propício de anunciarmos a eles mais explicitamente as verdades de fé. Caso contrário, corremos o perigo de jogar pérolas aos porcos. 

E que formas temos de praticar a caridade e exercer o apostolado? Existem vários tipos, alguns que mais visíveis e explícitos como os canais do YouTube ou os blogs(hehehe), mas também há alguns um tanto desconhecidos e quase invisíveis aos olhos dos homens, como  o apostolado da amizade. Basicamente, ele consiste no amor fraterno: conversar, rezar pelo outro, compartilhar alegrias e dificuldades, socorrer o outro num momento difícil do trabalho, do estudo, ouvir os problemas familiares. A amizade tem um caráter de comunicação, que inclui mas não se reduz à conversa, mas é um caráter de dar aquilo que tenho; se eu tiver Deus, se eu viver em estado de graça, posso comunicá-lO, de certa forma, ao meu amigo também! Como disse antes, o amor abre os corações dos homens para Deus. São Josemaria Escrivá fala do "apostolado epistolar", que seria o apostolado das cartas; hoje em dia, não é muito comum escrevermos cartas para as pessoas devido à facilidade que temos em nos comunicar pelas redes sociais. Ora, poderíamos ter como substituto para este apostolado uma espécie de "apostolado da ligação". Às vezes, ligar para alguém e falar algumas bobagens já faz um grande bem para as duas almas e é algo que pode ser feito inclusive neste tempo de pandemia. E cada um pode saber melhor de que maneira pode agarrar os homens para Cristo.

Gostaria, antes de terminar, de alertar para duas tentações que se podem ter ao buscar-se o zelo apostólico. Uma delas é um certo utilitarismo. Sabemos que o bem maior que se pode desejar para alguém é a salvação eterna da sua alma e esta salvação se dá ordinariamente pelos meios oferecidos pela Santa Igreja Católica, o que faz com que desejemos ardentemente a conversão de todos os homens que estão distante delas, porque os amamos e desejamos a eles este bem acima de qualquer outro por ser mais importante que qualquer outro. Como disse acima, devemos amar o nosso próximo e o amor abre seu coração para acolher as verdades eternas. A tentação "utilitarista" de que estou falando é querer se utilizar de uma "amizade" ou de um ato "de caridade" com a intenção de pura e simplesmente de converter as pessoas. Por que as aspas? Porque isto não seria nem caridade nem amizade autênticas. É o amor, e não o fingir o amor que abre os corações das pessoas. É ser amigo, e não fingir ser amigo que aproxima as pessoas de Cristo. Algumas pessoas o fazem por um certo escrúpulo, por uma certa obsessão em converter as pessoas. Daí essa obsessão os leva, mesmo que inconscientemente, a agir apenas em vista deste fim, quase que apenas tolerando o outro para convertê-lo, em vez de enxergá-lo como um presente de Deus. A impressão que se dá é que há uma intenção, mesmo oculta, de querer utilizar as pessoas como que para "contar pontos de apóstolo", para gloriar-se de ter convertido mais alguém, como que se quisesse fazer o apostolado por orgulho. Algo parecido se manifesta num zelo imprudente que se pode observar sem muita dificuldade, especialmente na internet. Muitas pessoas, ao verem qualquer erro ou qualquer pecado se inquietam de tal maneira que não conseguem deixar de corrigir ou de tentar debater, muitas vezes até sem a devida educação que o cristianismo exige. É um zelo imprudente porque não ordena corretamente os meios ao fim. Mesmo que as pessoas tenham, na maioria das vezes, uma boa intenção ao fazer isso, a saber, a conversão das almas, buscam este fim de maneira pouco eficiente, falando coisas que as pessoas não estão abertas ou preparadas para ouvir, jogando pérolas aos porcos(Mt 7, 7).É preciso ter paciência, respeitar o tempo de cada pessoa e lembrar-se sempre da própria humilde condição de criatura humana, limitada e que não consegue atingir a todos e que, mesmo a conversão daqueles que eu atinjo de alguma forma não depende de mim, pois homem algum pode converter outro. Só o Espírito Santo o pode. Assim, tenhamos muita paciência nos nossos empreendimentos apostólicos. Empreguemos um santo fervor, uma firme vontade de espalhar a todos a boa nova, mas lembremos sempre de que não podemos nada sem Deus e que não somos mais que meros instrumentos dos quais o Espírito pode ou não se servir para realizar algo bom segundo Sua própria vontade. Não queiramos mandar nEle, mas façamos tudo segundo a vontade de Deus.

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São José na Sagrada Escritura

  São José é mencionado nos Evangelhos apenas 14 vezes, em cerca de 43 versículos (Mt ...