Entre
o Natal e a celebração da Sagrada Família, duas festas que ressaltam a
humanidade de Jesus, escrevo este pequeno texto para falar sobre a nossa
humanidade, que Ele quis assumir, e da alegria que brota do orgulho e da
humildade de que nos preenchemos se contemplarmos bem o que é pertencer a este
gênero, a esta raça: a dos homens.
O orgulho
de ser homem
Já
falei várias vezes e torno a repetir que Deus nos ama pessoalmente. Este é um
grande motivo de orgulho para qualquer homem, especialmente para os batizados,
e traz consigo grande alegria. Quando contemplamos que Deus nos criou à Sua imagem
e semelhança e que, pelo Batismo e pela Confissão, nos devolve a semelhança que
o pecado nos tirou e que, para nos dar isto, assumiu nossa natureza e morreu
numa cruz, pensando em cada um e sabendo que Ele faria o mesmo sacrifício por
um só ser humano, só por mim, podemos nos encher de um santo orgulho, porque
somos amados a tal ponto por Deus. Valemos o sangue de Deus! Este é o nosso
preço!
Ainda
podemos pensar na nossa unicidade: Deus não criou absolutamente ninguém igual a
outro. Somos todos únicos e temos algo que somente nós podemos dar ao mundo.
Assim, podemos novamente encher-nos de santo orgulho ao considerar a nossa
importância pessoal para Cristo e para o mundo. Este é o orgulho de sermos quem
somos. Não simplesmente de sermos pessoas, mas de sermos esta pessoa em
especial, esta que Deus criou diferente de todas as outras, com seus defeitos e
limites, mas que é muito amada e muito importante para Ele.
E
dessa grandeza que tem o homem, deve brotar uma intensa alegria e confiança em
Deus. Nunca devemos nos sentir abandonados ou fracassados, muito menos sem
esperança. Nascemos todos para dar certo. E dar certo é ser feliz, sermos
amigos de Deus. Assim que vemos se uma vida valeu a pena, se uma pessoa é bem-sucedida:
se ela é amiga de Deus. Pode ser pobre ou rica, feia ou bonita, inteligente ou
não. O que importa é que seja amiga de Deus. Assim, sua vida se preenche de
sentido e de valor. E a nossa amizade com Deus cresce na medida em que amamos e
nos deixamos amar. Quanto mais amamos a Ele, ao próximo e a nós mesmos (com um
amor ordenado, não egoísta), mais amigos ficamos de Deus, mais felizes nós
somos e mais aumenta a nossa grandeza. Não pelas nossas próprias forças ou
méritos, mas pela graça divina.
A
humildade do homem
Agora,
não podemos deixar que este santo orgulho se degenere num sentimento luciferino,
de singularidade e de especialidade, de ser melhor ou mais importante que os
outros. Não podemos cair nesta tentação. Vede como nasceu e viveu Cristo nos
seus primeiros 30 anos de vida: como um homem comum. São Josemaria Escrivá
tanto falou sobre isso... Os anjos faziam festa no céu pelo seu Nascimento, mas
aos olhos dos homens (salvo a alguns que receberam revelações especiais: os
reis magos e os pastores), era só uma criança pobre que não tinha onde nascer e,
mais tarde, o filho do carpinteiro.
Fujamos
à tentação da singularização, da especialidade. Sejamos homens e mulheres
comuns, conscientes, sim, da própria grandeza, mas também dos nossos limites e
fraquezas. Não digo para não sermos ambiciosos e procurarmos, por amor a Deus,
sermos os melhores na escola, na faculdade, no trabalho. Mas sejamos pobres e
reconheçamos a nossa pequenez e nossa debilidade. Quando o fazemos de verdade,
longe de sentirmos tristeza, fracasso ou sermos abatidos por um grande peso,
somos libertados dos grilhões do egoísmo, da procura pelo centro da atenção
nossa e alheia e somos tomados por grande paz, alegria e liberdade interior.
Podemos pensar, com muita leveza: “sou um homem comum e amado por Deus”. Não
vamos nos surpreender com nossas faltas, apesar de sofrermos por elas, porque
saberemos da nossa baixeza e, quando não estamos muito altos, caímos “menos
feio”, segundo o ditado: “quanto maior o tamanho, maior a queda”.
Livrando-nos
disso, não assumiremos responsabilidades que não podemos cumprir, muito menos
exigiremos de nós mesmos coisas que não estão ao nosso alcance de realizar.
Seremos mais razoáveis e, novamente, livres! Esta liberdade é muito saborosa. É
a liberdade do cristão livre de escrúpulos, de maquinações inúteis, mas também
cheia de responsabilidade, mas de uma responsabilidade que não esmaga e não
oprime, porque é humilde.
É
muito importante contemplar com alegria a nossa humanidade, porque Deus quis
fazer-se homem. Espero que este pequeno texto tenha ajudado nesta tão árdua
tarefa! Deus abençoe a todos! Um feliz Natal e uma santa solenidade da Sagrada
Família!