sexta-feira, 19 de março de 2021

São José na Sagrada Escritura

 



São José é mencionado nos Evangelhos apenas 14 vezes, em cerca de 43 versículos (Mt 1,16.18-21.24-25;2,13-15.19-23;13,55; Lc 1,27;2,4-7.16-18.21-22.27.33-34.39.41-46.48.50-51;3,23;4,22; Jo 1,45;6,42). São José foi uma figura muito ativa, embora sempre esteja em 2° plano, ele obedece a vontade de Deus sem resistência, quando se questiona fica em silêncio, quando deve agir o faz em silêncio, quando está com o coração aflito é sua esposa a Virgem Maria quem fala. É um santo escondido, no recolhimento, homem da vida interior, não resignado passivamente, mas de um protagonismo corajoso e forte que se revela por todo o seu proceder. Pio IX em uma alocução dizia: “A pessoa e a missão de São José, passam apagadas, silenciosas, como que despercebidas e ignoradas, na humildade, no silêncio, silêncio que não devia iluminar-se senão mais tarde, silêncio ao qual deveriam suceder, e muito alto, o grito, a voz, a glória nos séculos”.

SÃO JOSÉ NO ANTIGO TESTAMENTO

            As coisas do Antigo Testamento foram ordenadas e dispostas por Deus para serem como sombra e figura dos mistérios que deveriam cumprir-se sob a Nova Lei. São José foi prefigurado por pessoas e coisas do Antigo Testamento, assim pode-se inferir pela Tradição e pela Liturgia, também é claro que estas figuras não representam em sua totalidade o pai nutrício de Jesus, mas apenas em alguns aspectos singulares.

            Os personagens mais importantes que prefiguram São José são: Jacó, José do Egito, Moisés e Davi. Todos estes prefiguram também à Jesus, no entanto prefiguram a São José em sentido literal secundário. A principal característica que une estes à São José é a fé inabalável em Deus.

Jacó é figura de José ao receber a promessa da herança paterna e foge para uma terra estrangeira para escapar da perseguição de seu irmão, assim também José recebeu de Jesus a promessa do Reino celeste e teve de fugir para o Egito. Deus prometeu em sonho a Jacó as bençãos a ele e a sua posteridade e lhe garantiu que retornaria a sua terra, São José avisado em sonho acolhe o mistério da Encarnação do Filho de Deus que “salvará o povo de seus pecados” e posteriormente pode retornar a Israel quando os que queriam matar Jesus, tinham perecido. São José se assemelha a Jacó na virtude da fortaleza e constância que o fizeram suportar os cansaços, perseguições e dificuldades da missão confiada à ele, assim como Jacó que lutara com Deus e vencera. A Liturgia aplica estas palavras dirigidas à Jacó a São José: “A sabedoria guiou por caminhos retos o justo que fugia à ira de seu irmão; mostrou-lhe o reino de Deus e deu-lhe o conhecimento das coisas santas; ajudou-o nos seus trabalhos e fez frutificar seus esforços; cuidou dele contra ávidos opressores e o fez conquistar riquezas; o protegeu contra seus inimigos e o defendeu dos que lhe armavam ciladas; e no duro combate deu-lhe vitória” (Sb 10, 10-12).

A figura mais evidente do Antigo Testamento que prefigura São José é José do Egito. A Tradição e a Liturgia atestam isso de forma muito clara. O Beato Pio IX na declaração de São José como Patrono da Igreja universal nos diz: “Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente
de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos”. José do Egito teve um carinho especial da parte de seu pai, Jacó, teve de fugir para o Egito, teve profunda misericórdia para com seus irmãos que o perseguiram, guardou sua castidade, foi concedido a ele um poder imenso tanto que era considerado o segundo no Reino, era muito sábio, interpretava os sonhos e agiu prudentemente quando soube da seca que assolaria o povo, quando trouxe o seu pai e seus irmãos introduziu o culto ao Deus verdadeiro no Egito. São José foi também filho de um Jacó e recebeu graças especiais do Pai celeste; ao salvar o Menino Jesus permitiu que todos que o perseguiram pudessem alcançar a salvação dada aos que se convertessem; guardou a castidade durante toda sua vida; pelo seu papel de guardião, pai e esposo, Deus lhe concedeu um poder de intercessão só abaixo da Virgem Maria, tanto ela quanto Jesus reconheciam sua autoridade e lhes eram submissos; agiu prudentemente e sabiamente quando ficou ponderando como agir em relação à Maria, quando decidiu não voltar à Jerusalém; como José guardou o trigo que alimentaria o povo, São José guardou o pão descido dos céus, do qual quem comer não terá mais fome; e quando levou o Menino Jesus ao Egito já foi cooperador da Redenção para aquele povo e para o mundo inteiro ao guarda-lo com tanta diligência. Em relação ao José do Egito, também assumimos a expressão Ite ad Joseph retirada de Gn 41,55, para o pai putativo de Jesus, confiando na sua intercessão junto ao seu filho.

Moisés é figura de José por três aspectos singulares: a doçura com a qual suportou as dificuldades da sua missão, a sua fidelidade em observar os mandamentos de Deus, e o conhecimento sobrenatural das coisas divinas. Todos estes aspectos podemos verificar em São José de modo perfeito, e com a Igreja no Ofício divino podemos dizer: “O homem fiel será muito louvado, e aquele que é o guardião de seu Senhor será glorificado” (Pr 27,18; 28,20). São José e Davi tem em comum a profunda humildade, a justiça que ambos praticavam e a honra que ambos tiveram pelos seus filhos. São Bernardo o louva dizendo “São José é verdadeiramente o filho de Davi, um filho que não é indigno de seu pai. Ele é filho de Davi em toda a força da expressão, não tanto pela carne, mas pela fé, pela santidade e devoção, o Senhor o encontrou diante de seu coração como um outro Davi”. José também pode ser prefigurado por diversas coisas inanimadas, ele é como o anjo guardião do Éden, os querubins que guardam a Arca da Aliança, o véu puríssimo que cobria a arca.

São José é o último dos Patriarcas, aquele que faz a ligação entre a Antiga e a Nova Aliança, filho de Davi, concede a herança das promessas a Jesus, que a leva a plena realização. Ele é Patriarca por ser pai putativo de Jesus, cabeça de todos os eleitos, irmão de todos os que acolhem a fé e são batizados.

SÃO JOSÉ NO NOVO TESTAMENTO

·         Genealogias (Mt 1, 16; Lc 3,23)

            Os evangelhos de Mateus e o de Lucas apresentam distintas genealogias de Jesus. O propósito dos evangelistas era distinto: Mateus escrevia para os judeus, por isso inicia a sua genealogia por Abraão, o pai da fé, e em três gerações de 14 descendentes chega à Jesus que é o Cristo, o Messias esperado, o filho de Davi; enquanto Lucas escrevendo para os gentios coloca Jesus como descendente de Adão, o primeiro homem, e assim o novo Adão dá início à uma nova humanidade.

            Dentre as diferenças que existem entre as genealogias, destaca-se a figura de São José que na genealogia de Mateus é dito ser filho de Jacó e na de Lucas é dito ser filho de Heli. Esta distinção ainda não está solucionada pelos exegetas, mas acredita-se que a resposta está na Lei do Levirato (Dt 25,5-10), onde a esposa que ficasse viúva deveria se casar com o irmão do falecido para que houvesse descendência do irmão falecido. São João Damasceno indica que Jacó e Heli seriam irmãos por parte de mãe, sendo o primeiro descendente de Salomão e o segundo de Natã. Heli morrera sem deixar filhos, então Jacó casa com a esposa do irmão e deste matrimônio nasce José, filho naturalmente de Jacó, mas filho de Heli, legalmente. O evangelho de Lucas apresenta na genealogia, José como descendente de Heli, seu pai segundo a Lei, e é colocado após o batismo de Jesus, indicando assim que Jesus abrirá as portas da filiação adotiva a nós, o evangelho de Mateus, colocando José, filho natural de Jacó, indica que Jesus se fez homem por nós. José é dito “o esposo de Maria”, segundo São João Crisóstomo, razão pela qual José é incluído na genealogia, por ser o esposo de Maria.

            As genealogias também como já indicado, tem a finalidade de apresentar Jesus como o Messias, filho de Davi conforme a promessa (2 Sm 7; 1 Cr 17). Alguns autores atestam que tanto José quanto Maria, seriam descendentes de Davi, por linhagens distintas, mas São José como pai e descendente de Salomão atesta mais fortemente a promessa, da realeza que subsiste na linhagem davídica, e ao assumir a paternidade de Jesus concede à Ele todos os seus direitos como filho de Davi, herdeiro da promessa que se cumpre em Jesus. São José concede ao seu filho a realeza que é vivida não como nos tempos de Davi e Salomão, mas na pobreza e humildade em que os descendentes de Davi se encontravam naquele tempo, realeza esta, característica do Reino de Deus, realeza exercida no serviço humilde.

·         Anunciação (Lc 1,27)

São José é mencionado no relato da Anunciação, ao introduzir Maria, ela é descrita como “uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi”. O matrimônio segundo a lei judaica se constituiria nos esponsais, ou noivado, que já indicariam o vínculo conjugal e os desponsórios, em que a noiva é acolhida na casa do seu esposo. O contexto da Anunciação se passa neste período de 1 ano em que Maria, já tem um vínculo jurídico à José, mas ainda não habitava em sua casa.

A virgem que conceberá e dará a luz um filho” é apresentada como virgem na Anunciação. De fato, ela conceberá por obra do Espírito Santo, e a sua virgindade deve ser perpétua, pois de outro modo, Maria não teria indagado ao Anjo como sucederia a concepção, se depois de algum tempo viesse a consumar o seu matrimônio. O matrimônio santo fora preparado pela Providência de Deus utilizando os meios ordinários, as causas segundas (execução natural do plano divino segundo as ordens naturais). Segundo o livro de Nm 36,6ss, a mulher que possuir patrimônio em uma tribo israelita, deve casar com um homem da mesma tribo, afim de que a herança permaneça na mesma tribo. Maria e José eram da família de Davi, o casamento entre ambos seria natural. Verificamos isso por tanto José quanto Maria, se dirigirem à Belém para fazer o recenseamento, que não era apenas um censo da população, mas também dos bens a fim de que fossem determinados impostos a pagar ao Império. Maria que seria filha única precisava inscrever seus bens, ainda que fossem poucos.

Alguns autores tais quais São Jerônimo, Santo Agostinho e São Pedro Damião apontam a virgindade de São José, ele teria decidido viver castamente, e Deus o haveria revelado que este matrimônio não seria obstáculo para o seu voto, pois Maria também era consagrada à Deus. A virgindade de São José se explica pela pureza de Jesus, a virgindade de Maria que como esposa deveria ter um esposo semelhante à ela e também o fato de São José ter sido escolhido para ser o guardião da virgindade perpétua de Maria. Quanto à virgindade de Maria diz-se segundo Ezequiel: “Este pórtico ficará fechado. Ninguém o abrirá, ninguém aí passará, porque o Senhor, Deus de Israel, aí passou; ele permanecerá fechado”. Enquanto a castidade de São José é representada pelo ramo de lírios que carrega em suas imagens, ramo este oriundo de piedosa lenda retirada de escritos apócrifos. O amor puro entre José e Maria se manifestou pela castidade de ambos, que foi como o selo dessa união, a união conjugal deles se deu pela união dos seus corações, a união dos ânimos.

·         A luta interior de São José: Acolhimento de Maria e a paternidade legal de Jesus (Mt 1,18-25)

            Nesta passagem evangélica vemos algumas características fundamentais do pai terreno de Jesus. Seguindo os versículos anteriores que falam sobre a genealogia de Jesus, iniciamos aqui com: “A origem de Jesus Cristo foi assim (...)”; ou seja, diferente das gerações anteriores, é uma concepção milagrosa, Maria “antes que coabitassem achou-se grávida pelo Espírito Santo”, como já explicado Maria ainda não fora recebida na casa de São José. José, esposo legal de Maria, “sendo justo não quis denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo”. Bento XVI diz que São José de acordo com a lei deve abandoná-la, podendo decidir entre um ato jurídico público ou passar-lhe uma carta privada de repúdio, e ele fica propenso a escolher a segunda via. São José não quer submeter Maria à humilhação, nem à lapidação (Dt 22), vê-se diante de um mistério que não compreende, sabe que Maria é uma jovem pura, casta, no entanto está grávida, sendo um homem respeitoso escolhe pela vida e honra de Maria.

            São José é justo. São José retoma a religiosidade dos grandes personagens do Antigo Testamento, estes são sintetizados como justos diante de Deus. É um homem que vive da Palavra de Deus, que anima interiormente o seu dia a dia, fazer a vontade de Deus é sua alegria e coloca plenamente a sua confiança em Deus. O homem justo é aquele dotado de todas as virtudes sobrenaturais. José age na “plenitude da lei”, procura viver entre a lei e a misericórdia. São João Crisóstomo diz acerca de José: “Do mesmo modo que o sol, antes de exibir seus raios, já ilumina a Terra, assim também Cristo, antes de nascer, fez com que aparecessem no mundo muitos sinais de perfeita virtude”.

            São José inclinado à repudiá-la secretamente, ainda reflete em seu coração, sabe que mesmo utilizando este meio, Maria poderia estar sujeita à infâmia, e por isso se detém, também vemos a sabedoria de José que não age temerariamente e a sua mansidão que não fez alarde, mas refletia consigo mesmo este mistério. O anjo revela a mensagem de Deus através de um sonho. O sonho é um dos meios pelos quais Deus se comunica a nós. Apenas pessoas muito tementes à Deus, com grande capacidade de discernimento, recebem este tipo de mensagem divina. De fato, bastava um sonho para esclarecer o coração do Justo José, cheio de fé confia plenamente em Deus. Se antes passava por uma grande luta interior diante do mistério que via diante de si, agora recebe o consolo de Deus, uma verdade que ultrapassa toda a imaginação, ao ouvir “Não temas”, todo o temor será abandonado e José estará pronto para acolher Maria, sua mulher, agora com um amor muito maior sabendo que ela será mãe de Deus. José é dito filho de Davi, herdeiro da promessa, e por isso é ele quem deve conceder à Jesus a garantia da fidelidade de Deus.

            A justiça de São José torna-se obediência, acolhe a mensagem de Deus e imediatamente acolhe Maria, ela dá à luz um filho, não para José, mas para toda a humanidade e José lhe dá o nome de Jesus, conforme a mensagem do anjo. É pela obediência de José e pelo sim de Maria que começamos a ser salvos. São João Paulo II nos diz: “Ele recebeu-a com todo o mistério da sua maternidade; recebeu-a com o Filho que havia de vir ao mundo, por obra do Espírito Santo: demonstrou deste modo uma disponibilidade de vontade, semelhante à disponibilidade de Maria, em ordem àquilo que Deus lhe pedia por meio do seu mensageiro”. A sua obediência de fé o uniu à fé de Maria, assim José tornou-se depositário do mistério divino. O texto evangélico também diz que após José ter recebido Maria, “não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho”, este trecho explica-se que a Escritura apenas indica o que não aconteceu, não querendo dizer que depois teria ocorrido a relação conjugal entre os esposos. Há muitos exemplos nas Escrituras desse modo de se expressar, tais quais: “Até à vossa velhice, eu sou” (Is 46,4), “Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 27,20) e “É necessário que ele reine, até que ponha todos os inimigos debaixo de seus pés” (1Cor15,25). Todas estas passagens não indicam que o contrário teria ocorrido após um determinado tempo.

            O matrimônio de Maria e José cumulou o pai de Jesus de muitas graças, a santidade sublime de Maria, “cheia de graça”, era um contínuo fluxo de graça para José. Os esposos quando se unem, tornam-se um só, assim José por seu vínculo matrimonial se aproximou da altíssima dignidade da Mãe de Deus. Neste matrimônio não faltou nenhum de seus requisitos: a prole, a fidelidade e o sacramento (a união dos corações). São José foi escolhido por Deus para tão magnífica missão de ser o esposo de Maria para que a protegesse das consequências da Lei para a sua gravidez extraordinária; para ser o seu companheiro na vida, em que partilhavam uma afeição recíproca sobrenatural e fosse um consolo nas suas dores; para ser o guardião da sua castidade; e para provê-la em todas as suas necessidades. Além da condição natural para este casamento ter se realizado, também pode-se dizer que São José foi escolhido pelos seus méritos, era um homem “justo” como já dito, mas estes méritos lhe foram concedidos pelos de Cristo, que não está sujeito ao tempo, e em sua vida por sempre seguir a vontade de Deus, pôde aumentá-los correspondendo a graça de Deus.  Este matrimônio santo é a figura perfeita da união entre Cristo e a Igreja, como nos diz São Paulo (Cf. Ef 5,21-26). 

            Alguns autores, entre os quais o Papa Francisco na sua carta apostólica Patris Corde, utilizam para São José a imagem da sombra do Pai. São José é na terra o depositário da vontade do Pai Celeste, ele assume a autoridade, a pureza e o amor nas suas relações com Jesus. A sua autoridade é proveniente daquilo que o Pai lhe concedeu, e é dito que Jesus lhe era submisso, esta obediência do Filho cumulou José de muitas graças. Ele também é um pai na pureza, pois é o castíssimo José, toda a sua vida foi livre e ordenada perfeitamente, e nesta liberdade soube deixar seu filho partir em missão e ele mesmo pôde partir desta vida. José é o pai amantíssimo, amou com todo o seu coração a Jesus, a quem doou toda a sua vida a partir do momento em que acolheu Maria, seu amor é um amor paterno sem limites, uma oblação completa a seu filho a quem irá proteger, cuidar, nutrir e ensinar o seu ofício. Como o Senhor fez com Israel, assim ele ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer (cf. Os 11, 3-4), concretamente toda a vida oculta de Jesus foi confiada à sua guarda. Por tudo isso, São José é descrito como uma sombra do Pai na terra. A paternidade de José também serviu para ocultar ao demônio o nascimento do Filho de Deus e por ter sido guardião de Jesus, ele coopera com a nossa Redenção. A santidade de José só abaixo da Virgem Maria, vem destes dois encargos sem igual que assumiu: esposo de Maria e pai terreno de Jesus.

·         O recenseamento e o nascimento de Jesus (Lc 2,4-7)

            É sob o contexto histórico do recenseamento realizado quando Quirino era governador da Síria, que se dá o nascimento de Jesus. José e Maria deveriam se dirigir à Belém por serem da linhagem davídica e lá deveriam registrar os bens que possivelmente possuíam na cidade, para posteriormente serem determinados os impostos a pagar. A partir do decreto do Imperador César Augusto cumpre-se a vontade de Deus: “E tu, Belém-Éfrata, pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que governará Israel” (Mq 5,1). Durante a ida à Belém, viagem de aproximadamente 4 dias, São José começa a exercer o seu direito paternal ao escolher o local de nascimento do filho, ao permanecer com Maria no parto e depois ao registrá-lo. José ao inscrever o nome de Jesus no Império, deixa claro que este menino é pertencente ao gênero humano, vindo ao mundo para salvá-lo. Orígenes indica que no primeiro recenseamento de toda a terra conhecida até então, Jesus está entre os inscritos, de fato, é ele quem nos faz participar do recenseamento no livro dos vivos.

            Jesus nasce na pobreza, seus pais não conseguiram melhor local para que se desse o nascimento, a hospedaria estava cheia, eram muitos os forasteiros na região devido ao censo, e tristemente “não havia lugar para eles”, é Jesus que passa e bate, esperando fazer morada naqueles que abrirem a porta dos corações, tristemente fechados. O menino Deus nasce no estábulo que na região de Belém, era comum serem utilizadas grutas com este fim, e é colocado na manjedoura, local de alimentação dos animais. A Tradição coloca os dois animais como testemunhas deste nascimento que toda a Criação esperava, baseado em Is 1,3, também estes são figuras do povo judeu e dos gentios. Maria “dá à luz ao seu filho primogênito”, que para as leis de Israel não queria dizer o primeiro de muitos, mas apenas que este é primeiro, aquele que deveria ser consagrado à Deus. Podemos apenas imaginar a alegria sobrenatural que preencheu os corações de Maria e José, com todo o cuidado e amor o tomaram em seus braços e o adoraram profundamente!

·         A visita dos pastores (Lc 2,16-18)

            Os pastores que representam os pobres de Israel, o “resto” que permaneceria fiel e que tinha sido profetizado a salvação por parte do enviado de Deus, daquele que apascentaria o povo de Israel (Cf. Mq 5), depois da Teofania e a mensagem recebida por intermédios dos anjos, partem imediatamente a fim de ver o Salvador. Os pastores estavam cheios da “grande alegria” anunciada, encontram o menino como predito, e transbordam louvando aquilo que estava em seus corações. É relatado que todos os que os ouviam ficavam maravilhados, o texto menciona Maria que guardava tudo no seu coração e José. Haveriam outras pessoas presentes? Possivelmente após o nascimento alguns teriam se aproximado por curiosidade, mas fiquemos no Evangelho, vemos que São José e Maria devem ter se maravilhado com o que os pastores diziam, era uma maravilha o que Deus havia feito por eles, pelo povo de Israel e toda a humanidade, uma grande maravilha. Apesar das graças que estes possuíam diante de Deus, se maravilhavam ao aprofundar a bondade de Deus, assim também será o Céu em que sempre nos surpreenderemos com Deus e sua benevolência para conosco.

·         A adoração dos magos (Mt 2,11)

            Neste texto, São José não é mencionado. É dito que os magos ao adentrarem o recinto, veem o menino e Maria, sua mãe. Bento XVI indica a surpresa pela ausência de São José, e explica que isto deve realçar que Jesus é filho da Virgem e de Filho de Deus. São José coloca-se de lado, humilde, sabe que Jesus não é seu, deixa que o projeto de Deus se torne evidente.

·         A circuncisão e a imposição do nome (Lc 2,21)

            A circuncisão ocorre no 8° dia, por ela Jesus pertence formalmente ao povo de Israel, é um sinal da aliança de Deus com Abraão, da santidade do povo. Jesus é a própria promessa que se realiza, o seu nome é indicativo de sua missão, “Deus salva”. Era função de São José preparar o rito da circuncisão, podendo ter sido ele mesmo a realizá-la, e era realizada na casa do pai, devendo ao pai pronunciar uma benção sobre o filho. São José impôs o nome de Jesus, agora o cumprimento da Aliança está próximo, a salvação que o povo esperava torna-se realidade. É próprio do pai dar o nome ao filho. O dar o nome representa também que o filho é verdadeiramente seu, de fato, Jesus é filho de José. Por José temos o único nome que pode nos dar salvação, agradeçamos a Deus por tão sublime homem, porta-voz da salvação!

·         Apresentação de Jesus no Templo (Lc 2,22-40)

            A apresentação de Jesus foi realizada no 40º dia do seu nascimento. José, justo, e Maria, que sempre meditava todas as palavras em seu coração, eram plenamente obedientes à Lei, e como tais procuravam cumpri-la fielmente. José e Maria exercem os seus direitos paternais ao fazer tudo que a Lei pedia referente ao seu filho. O Levítico atesta três ritos que deveriam ser cumpridos: a purificação da mãe, a oferta do primogênito e o seu resgate. Segundo Lv 12, 1-4 a mulher que dá à luz fica impura por sete dias e deve ainda ficar 33 dias em casa para se purificar, depois deve oferecer um sacrifício de purificação, que deve ser duas pombas ou rolinhas para as pessoas pobres. Maria, toda santa, não precisava passar pelo rito da purificação, mas para cumprir a Lei, é submissa e oferece o sacrifício dos pobres, a Sagrada Família é realmente parte dos pobres de Israel.

            A oferta do primogênito (Cf. Ex 13), representava o povo de Israel resgatado por Deus da escravidão no Egito, o primogênito é consagrado à Deus. Este rito se cumpre com perfeição em Jesus que é “Santo, Santo, Santo”, mas ele não precisa de resgate, pelo contrário, é Ele o autor do resgate. A apresentação de Jesus já é prefiguração do que se realizará na Paixão. No entanto, cabia ao pai oferecer o resgate de cinco siclos, o que São José certamente o fez. No entanto, o texto evangélico não apresenta o resgate, mas apenas a apresentação, deixando evidente que o menino Jesus é totalmente propriedade do Pai, o que se torna claro no episódio da perda e encontro de Jesus no Templo. O Papa Pio IX (que depois viria a declarar São José como Patrono da Igreja) ao comentar a apresentação de Jesus no Templo evidenciava a função de São José e assim descrevia o seu gesto “José generoso e pronto na obediência, levanta os braços e tendo a suave hóstia do sacrifício exclama: Eterno Pai, eis esta criança, que me deste em lugar de Filho, eu o amo mais que a mim mesmo, este amável, este estimado Filho; eu o adoro profundamente e com grandíssima reverência o reconheço por meu Deus; somente nele eu vivo, somente nele eu me movo, somente nele eu existo, mas vós quereis que este penhor seja sacrificado pela saúde dos homens...”

Ainda no contexto da apresentação, vemos o velho Simeão e a profetisa Ana que profeticamente louvam e bendizem a Deus pela chegada do Menino Deus, salvação esperada para o povo de Israel. São José e Maria admiram-se das palavras ditas por eles, penso que esta admiração é própria dos humildes - “Senhor, quando foi que te fizemos isto?” (cf. Mt 25,37-39) -, os benditos do Pai, que tudo colocam nas mãos de Deus. Simeão indica à Maria “uma espada traspassará a tua alma”, São José não participará desta dor de Maria, mas já desde o início quando teve a surpresa de ver a sua esposa grávida, participa das dores que o ajudaram a galgar uma santidade tão sublime diante de Deus.

·         A fuga para o Egito: O guardião (Mt 2,13-15)

            Um momento crucial da história da salvação e do porquê de São José ser tão necessário na vida de Jesus e de Maria. Novamente avisado em sonho, José deve partir imediatamente, pois Herodes em sua loucura procurará o menino para matá-lo. José ainda de noite, quando o mal formula seus planos, parte com Maria e Jesus. A fuga para o Egito coloca Jesus e seus pais na realidade humana, que indica que é necessário fugir diante de um grande poder que os ameace, até o Filho de Deus precisou fugir quando lhe foi conveniente, seguindo a sua indicação “quando vos perseguirem em uma cidade, fugi para outra”, também nós não devemos buscar as perseguições, mas enfrentá-las prudentemente. O proceder de José como nos diz o Papa Francisco revela-se em um acolhimento profundo dos acontecimentos, não se revoltando, mas assumindo a sua responsabilidade e agindo de acordo, é uma manifestação do dom da fortaleza vindo do Espírito Santo. É também manifestação de um homem cheio de esperança, que não se deixa abater.

A caminhada ao Egito, só pode ser imaginada, com todas as dificuldades, é certo que seria um percurso de cerca de 400 km e feito em um período de 30 a 40 dias. Muitas localidades são identificadas como o local da estadia da Sagrada Família, no entanto, como são baseados em livros apócrifos, não são mais que piedosas lendas. A ida para o Egito coloca São José como ministro da salvação para o povo egípcio, já indicando a libertação para os povos pagãos, ele leva o único capaz de salvar aquele povo da idolatria, e assim os egípcios que perseguiram o povo primogênito de Deus, agora guardam o Filho Unigênito. José e Maria teriam residido com o seu filho junto à numerosa comunidade israelita que havia no Egito, e imaginando o tempo em que teriam permanecido, pode ter sido lá que o Menino Deus deu seus primeiros passos, e chamado à José de pai e Maria de mãe. Jesus também cumpre plenamente a profecia do livro de Oséias “Do Egito chamei o meu Filho”, e se coloca como o novo Moisés, saindo do Egito para Israel, libertando o povo, e diferente de Moisés, Ele adentrará a Terra Prometida, vai voluntariamente ao “exílio” para trazer todos para casa, é a Nova Aliança que supera a Antiga.

            Em todos estes acontecimentos, revela-se o papel de José como o “Guardião do Redentor”, título utilizado por São João Paulo II, é através deste homem, e não de milagres e meios extraordinários que Deus protege o seu Filho, com sua coragem criativa soube discernir a vontade divina e utilizando os seus talentos soube multiplicá-los e nunca deixou faltar o essencial para Jesus e Maria.

·         O retorno à Israel e a prudência de São José (Mt 2, 19-23)

            No 3º sonho mencionado no Evangelho, José é avisado que pode retornar à terra de Israel, pois aqueles que procuravam matar à Jesus, já haviam morrido (além de Herodes, também os seus partidários). José sempre obediente cumpre a ordem do anjo. Que alegria saber que pode retornar a sua terra, mas logo fica sabendo que Arquelau reinava no lugar de Herodes. Arquelau era um rei tão cruel quanto o pai e governava na Judeia, José sabendo disso e sempre como o guardião de Jesus, teme ir à Jerusalém, que seria o local mais adequado para habitar com Jesus, pela proximidade do Templo, mas avisado em sonho parte para Nazaré, sua terra natal. A prudência de São José manifesta-se no seu agir, ele sabe perscrutar a realidade que se apresenta e tomar as decisões segunda as razões retas discernidas em sua consciência. O texto evangélico fala que se cumpria “o que tinha sido dito pelos profetas: Ele será chamado Nazoreu”, ao dizer os profetas indica que não se refere a uma passagem específica, mas ao sentido geral das Escrituras. Assim, Jesus será “Nazoreu”, nazareno, um consagrado à Deus, também nos diz Bento XVI que nesta palavra pode-se retirar a raiz nezer que remete à Isaías 11,1: Brotará um rebento (nezer) do tronco de Jessé”. É um novo início para a humanidade que será redimida neste rebento que dará vida ao tronco outrora morto.

·         Perda e encontro de Jesus no Templo (Lc 2,41-52)

            Todos os judeus deveriam ir à Jerusalém três vezes ao ano: Festas da Páscoa, Pentecostes e das Tendas, no entanto para os que moravam mais longe era permitido ir apenas na Festa da Páscoa. A Sagrada Família parte para Jerusalém, rumo ao Templo, fazem parte da comunidade de Israel sempre em peregrinação rumo ao encontro com o Pai. Era uma viagem longa de três dias, mas todo judeu fazia essa viagem com o coração alegre e diziam “Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor! Por fim nossos passos se detêm às tuas portas, Jerusalém!” (Sl 122,1-2). Jesus pôde acompanhar os pais, pois Arquelau já tinha morrido, e José permanece com Jesus ao longo dos ritos celebrados. Terminado os festejos, as caravanas partem de volta para suas terras, era costume haver divisão em grupos de homens e grupos de mulheres. Este fato, somado a multidão que se reunia em Jerusalém, e a liberdade e obediência que reinavam na Sagrada Família, tornaram fácil a Jesus não ser notado por seus pais por pelo menos até o fim do dia. Durante uma parada em que José e Maria puderam se encontrar, a perda foi dolorosamente constatada. Jesus não estava com eles! E fica “perdido” por três dias, o tempo decorrido durante o primeiro dia de viagem, o retorno no segundo dia e o terceiro em que encontrarão Jesus. Parece ser a espada que já se avizinha do coração de Maria. São José, guardião de Jesus, o procura incansavelmente junto à sua esposa. Estavam aflitos, refazendo os seus passos até encontra-lo. O achado se dá no Templo, onde admirados veem Jesus no meio dos doutores da Lei os interrogando. Com certeza era desconcertante este menino, sem conhecimento formal, além do aprendido com os pais, parecia ensinar aos doutores. Maria e José são mais uma vez relembrados de quem é o seu filho.

            Maria, no entanto, toma à frente e expressa a aflição natural que sentira junto à São José e delicadamente o coloca antes dela “teu pai e eu estávamos aflitos a te procurar”. Vemos aqui que Maria reconhece São José como verdadeiramente o chefe de sua família, tanto ela quanto Jesus se submetem voluntariamente à sua autoridade; também ela o reconhece como verdadeiro pai de Jesus, não é apenas ao olhar dos outros que não conhecem os desígnios de Deus, que ele é o pai, mas também aos olhos de Maria e de Jesus. De fato, Jesus na Encarnação assumiu a humanidade em todas as dimensões, também a família e nela a paternidade humana de José. O Filho de Deus, entretanto, relembra aos seus pais, quem Ele é verdadeiramente, a sua missão e sua alegria, “não sabeis que devo estar nas coisas de meu Pai?”, é fazer a vontade do Seu Pai. Seus pais não compreenderam a Palavra de Jesus, podemos ver aqui a humildade já mencionada, e também que tanto Maria quanto José, ainda estavam a caminho, sua fé precisa ainda ser amadurecida, é nessa pedagogia divina que as angústias e tribulações servem como crescimento rumo à santidade. Por fim, é dito que Jesus “crescia em sabedoria, estatura e graça” e “lhes era submisso”. Não era necessário, mas Jesus é o bom filho, que piedosamente é submisso aos pais. O seu crescimento em estatura, graça e sabedoria está também atrelado à São José e a Virgem Maria. O pai nutrício de Jesus não deixou que faltasse o pão de cada dia na casa de Nazaré, ele ensinou a Jesus o seu ofício, ajudando-o a se desenvolver humanamente de forma integral, junto à Maria nas suas orações cotidianas ensinavam Jesus a importância das Escrituras, no praticar fielmente a Lei, mas com misericórdia, davam o exemplo da virtude da religião. Assim, Jesus ia crescendo em estatura, sabedoria humana e graça até que chegasse a sua “Hora”, quando deveria iniciar a sua vida pública.

·         São José mencionado por Filipe (Jo 1,45)

            São José é mencionado por Filipe ao anunciar que encontrara o Messias prometido, ele revela que ele é “Jesus, o filho de José, de Nazaré”. José, o carpinteiro de Nazaré deveria ser conhecido na região, e por ser de Nazaré, da qual nenhuma profecia mencionara nada de especial, será este anúncio inicialmente, rejeitado por Natanael.

·         Jesus é rejeitado em Nazaré (Mt 13, 55; Lc 4,22) e o Discurso de Jesus na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6,42)

            Jesus é rejeitado em sua pátria ao ensinar as pessoas que estavam na sinagoga, muitos, seus concidadãos, ele é desprezado por causa de sua família que era conhecidamente uma família humilde, escondida, sem grandes particularidades, eles mencionam São José, dizendo apenas a sua profissão, sem mencionar o seu nome, “Não é este o filho do carpinteiro”. No entanto, no Evangelho de Lucas é dito “Não é este o filho de José?”, podemos então reconhecer que São José é de fato, o carpinteiro. No relato similar em Marcos, Jesus é dito como carpinteiro. Em João, no longo discurso da sinagoga de Cafarnaum, em determinado momento os judeus murmuram entre si: “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos? Como diz agora: Eu desci do céu!”.

            Daqui podemos tirar a realidade da profissão de São José, ele foi de fato, o carpinteiro, artesão, ele trabalhava continuamente para nutrir o seu filho e suprir as necessidades de Maria, sua esposa. Ao longo da vida escondida em Nazaré, trabalhou humildemente e ensinou Jesus a sua profissão, assim São José foi formando seu filho em sua natureza humana, e ele que era submisso, pôde crescer em sabedoria. Jesus assim assumiu também o trabalho e o redimiu. São José também foi escolhido para ser o pai de Jesus e esposo de Maria, para ocultar o nascimento do Filho de Deus até a hora propícia, assim protegia Maria e Jesus, ele era o véu que guardava o Santo dos Santos, assim aqueles que estão presos a um pensamento pragmático não são capazes de entender quem é verdadeiramente Jesus, utilizam sua família e a profissão do pai para ultrajá-lo, pois naturalmente não poderia ter toda aquela sabedoria e em vez de reconhecer que ela vem de Deus, chegam a dizer posteriormente que age pelo demônio. O trabalho humilde de José é a representação da santificação da vida cotidiana, o que mostra que para ser bom cristão é necessário apenas a doação da vida, sem necessariamente “grandes” feitos.  A profissão de São José também pode apontar para uma analogia entre ele e o Pai, nos diz Santo Agostinho: “O Pai de Cristo é Deus Carpinteiro, que fabricou a obra de todo o mundo (...) aplaina as mentes rígidas e retira, cortando, os pensamentos soberbos”. Jesus, também carpinteiro será salvador pelo lenho da cruz.

            Não temos informações quanto à morte de São José, mas pelos textos mencionados e pelo relato das bodas de Caná, quando Maria e os “irmãos” de Jesus foram procurá-lo e especialmente na Paixão, quando Maria é confiada ao apóstolo João, pensa-se que São José teria morrido um pouco antes ou no início da vida pública de Jesus, de outro modo certamente teria sido mencionado nestes relatos. Dizemos que São José é o padroeiro da boa morte, isso porque a Tradição afirma que ele que dedicou toda a sua vida aos bens mais preciosos de Deus, Jesus e Maria, teria sido cumulado de graças na hora de sua morte, sendo assistido pelo próprio Jesus e por sua esposa que tanto lhe amou, a Virgem Maria. A morte de São José tem a beleza, a calma e majestade um tranquilo ocaso. Jesus certamente lhe haveria revelado interiormente a graça que se sucederia segundo o projeto salvífico de Deus e que logo estariam reunidos no Reino dos Céus. São José nos ensina a termos confiança em Jesus, e viver este momento de passagem com Jesus, tendo vivido uma boa vida nos dá o caminho para uma boa morte e tendo à São José profunda devoção, poderemos dizer “Quando estiver morrendo, quero com viva fé, consolo achar dizendo: Jesus, Maria e José”.

            Terminamos recorrendo à Santa Teresa de Jesus que nos exorta a ter profunda devoção e nos confiarmos à São José: “Tomei por advogado e senhor ao glorioso São José, e encomendei-me muito a ele. Não me recordo de lhe haver, até esta hora, suplicado graça que tenha deixado de alcançar (...) a outros santos parece ter dado o Senhor, graça para socorrerem numa determinada necessidade; quanto ao glorioso São José, sei por experiência que socorre em todas (...) só peço que experimente quem não me crer; e verá por experiência o grande bem que faz encomendar-se a este excelso Patriarca e ter-lhe amor”.

 

REFERÊNCIAS

Aquino, Santo Tomás de. Catena Aurea: exposição contínua sobre os evangelhos.

BENTO XVI, Carta Enc. Bonum Sane (25/07/1920).

Cardeal Lépicier, Alexis Henri-Marie. São José, esposo da Santíssima Virgem Maria.

Francisco, Carta Apost. Patris Corde (08/12/2020).

JOÃO PAULO II, Exortação Apost. Redemptoris Custos (15/08/1989).

JOÃO XXIII, Carta Apost. Le voce che da tutto (19/03/1961)

LEÃO XIII, Carta Enc. Quamquam pluries (15/08/1889).

Pe. Meschler, Maurício, S.J. São José na vida de Cristo e da Igreja.

PIO IX, Carta Apost. Inclytum Patriarcham (07/07/1871).

Ratzinger, Joseph. Jesus de Nazaré: a infância de Jesus (15/08/2012).

SACROR. RITUUM CONGREG., Decr. Quemadmodum Deus (08/12/1870).

 

 

           

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

O ANO DE SÃO JOSÉ, PATRONO UNIVERSAL DA IGREJA CATÓLICA

 

O Papa Francisco convocou o ano de São José no dia 08/12/2020, dia da Imaculada, dia em que há 150 anos o Papa Beato Pio IX quis elevar São José à patrono da Igreja universal, anseio este há muito atestado pelo povo e pelo clero. Ao longo deste ano, falaremos sobre quem foi São José, seu papel, sua dignidade, sua honra, suas virtudes.

                                    
                                                   Beato Pio IX (13/05/1792-07/02/1878).

Inicialmente, falaremos sobre o Decreto do Beato Pio IX, Quemadmodum Deus, publicado pela Congregação para os Ritos, hoje a Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos sacramentos, em que é declarado: “Da mesma maneira que Deus havia constituído José, gerado do patriarca Jacó, superintendente de toda a terra do Egito para guardar o trigo para o povo, assim, chegando a plenitude dos tempos, estando para enviar à terra o seu Filho Unigênito Salvador do mundo, escolheu um outro José, do qual o primeiro era figura, o fez Senhor e Príncipe de sua casa e propriedade e o elegeu guarda dos seus tesouros mais preciosos”. Esposo da Imaculada Virgem Maria e pai de Jesus Cristo, que “lhe foi submisso”, o qual “viu, conviveu e com paterno afeto o abraçou e beijou”. Também o “nutriu cuidadosamente” não deixando faltar o pão para Aquele que era o pão descido dos céus. O Papa ressalta que a Igreja sempre teve São José em altíssima dignidade, após apenas da Beata Virgem Maria, e sempre recorreu a sua intercessão em momentos difíceis.

Diante da ameaça de diversas forças inimigas à Igreja (maçonaria, comunismo, modernismo, a queda de Roma e perda dos estados pontifícios), os bispos do mundo inteiro solicitaram e o Papa prontamente atendeu, elevando assim São José à dignidade de Patrono da Igreja Católica, e concedendo que sua festa litúrgica, dia 19 de março, seja elevada a um rito duplo de primeira classe, e quis que este decreto fosse solenemente proclamado no dia 08 de dezembro, dia da Imaculada, à qual São José tanto amou conforme o Espírito diria “amai vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).  

    Papa Francisco e São José na capela de Santa Marta.

O Papa Francisco quis rememorar os 150 anos da Quemadmodum Deus, com a carta apostólica Patris Corde, na qual ele ressalta alguns aspectos da vida de São José. O Papa nos diz que o chefe da Sagrada Família “era um humilde carpinteiro, desposado com Maria; um homem justo, sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei e através de quatro sonhos; viu o Messias nascer num estábulo, ‘por não haver lugar para eles’ (Lc 2, 7); testemunha da adoração dos pastores e dos Magos; assumiu a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome; ouviu, surpreendido, a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria; para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, na Galileia; José e Maria, angustiados, durante uma peregrinação a Jerusalém perderam Jesus e O encontraram três dias mais tarde no Templo discutindo com os doutores da Lei”.

O Papa Francisco rememora as contribuições de seus predecessores e acrescenta aquilo que está na abundância de seu coração, realçando na figura de São José todos aqueles que vivem uma vida escondida, contribuindo para o bem do próximo. São destacados 7 pontos do coração de pai do carpinteiro de Nazaré: amor, ternura, obediência, acolhimento, coragem criativa, trabalhador e sombra.

São José como pai amado, “colocou-se inteiramente ao serviço do plano salvífico”, usou de sua autoridade legal sobre a Sagrada Família para se fazer dom total de si mesmo, uma oblação sobre-humana à serviço do Messias. Por seu papel sublime, sempre foi invocado como intercessor pelos cristãos de todos os tempos, “Ite ad Joseph” – ide à José – assim como o José do Egito, José o pai terreno de Jesus, é o guardião dos maiores tesouros, Maria e Jesus, e torna-se a “dobradiça entre o Antigo e o Novo Testamento”, o último dos patriarcas.

São José manifestava seu amor pela ternura, viu “Jesus crescer ‘em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e dos homens’ (Lc 2, 52), ensinou Jesus a andar, segurando-O pela mão: era para Ele como o pai que levanta o filho contra o seu rosto, inclinava-se para Ele a fim de Lhe dar de comer” (cf. Os 11, 3-4). Apesar das suas angústias, temores e fraquezas soube exercer seu chamado confiando plenamente em Deus, que bem sabe usar das nossas fraquezas para realizar seus desígnios. São José ensina-nos a confiar e a aceitar as nossas limitações!

O Pai obedientíssimo de Jesus, acolheu sem protelar os diversos avisos do Anjo. Diante da angústia da gravidez incompreensível de Maria, pode superar seu drama e salvar Maria, pelo seu “fiat”. José e Maria cumpriam todas as prescrições da Lei, e assim ensinaram seu filho, por vezes dando “pleno cumprimento” à ela. Jesus aprendeu na escola de José a ser submisso a seus pais e a sempre fazer a vontade do Pai. De fato, Jesus teve no seio familiar aquilo que tanto procurou, e pouco achou, no coração dos filhos de Israel.

O carpinteiro de Nazaré acolheu Maria, respeitosa e delicadamente, ainda que não entendesse perfeitamente o mistério que se realizara, “soube deixar de lado os seus raciocínios e acolhe o que sucede, reconciliando-se com sua própria história”. A vida espiritual de José manifesta-se no acolher, que não é resignação passiva, mas concretude do dom da fortaleza que o Espírito nos concede, “só o Senhor nos pode dar força para acolher a vida como ela é, aceitando até mesmo as suas contradições, imprevistos e desilusões”. O Papa Francisco nos exorta a acolhermos aquilo que Deus disse a São José: “Não temais”, e assim acolhermos o que não foi planejado, mas existe em nossa vida. “A vida de cada um de nós pode recomeçar miraculosamente, se encontrarmos a coragem de a viver segundo aquilo que nos indica o Evangelho. E não importa se tudo parece ter tomado já uma direção errada, e se algumas coisas já são irreversíveis. Deus pode fazer brotar flores no meio das rochas. E mesmo que o nosso coração nos censure de qualquer coisa, Ele ‘é maior que o nosso coração e conhece tudo’ (1 Jo 3, 20). A verdadeira fé é aquela como a de São José “que não procura atalhos, mas enfrenta de olhos abertos aquilo que lhe acontece, assumindo pessoalmente a responsabilidade por isso.”

São José diante das dificuldades teve a coragem criativa, semelhante ao dos amigos do paralítico (Lc 5, 17-26), encontrando nos dons que Deus lhe deu a força para encontrar as soluções. José é o “milagre”, o instrumento que Deus usa para salvar o Menino e a Mãe, ele arranja o estábulo, organiza a fuga para o Egito, com o trabalho noite e dia consegue suster a sua família. Deus não nos abandona, ele confia que podemos produzir os frutos a partir das nossas capacidades. Na figura de São José que sempre guardou Jesus e Maria, o Papa nos interpela a refletirmos se como ele, estamos protegendo com todas as nossas forças a Jesus e a Maria. Como? Protegendo a Igreja que é Corpo de Cristo e é perfeitamente figurada em Maria, e também todos os mais pequeninos, migrantes, pobres, o “resto” à que Jesus se configura (Mt 25).

“José, humilde artesão, trabalhaste noite e dia, para não faltar o pão no lar da Virgem Maria”, assim nos diz a canção. José ensina-nos o valor do trabalho, meio de dignamente viver a vida que Deus nos concede e de contribuir com a sociedade, de contribuir para a própria salvação e acelerar a vinda do Reino. O ofício de São José, aprendido também por Jesus nos mostra que Deus “não desdenha do trabalho”, mas o indica como meio para a realização pessoal e o bem comum. São José Operário intercedei pelos desempregados!

Por fim, o Papa Francisco indica em São José a imagem utilizada pelo escritor Jan Dobraczyński, José é a sombra do Pai celeste. Como tal, pode-se atribuir o título de “José castíssimo”, é um homem imbuído de amor, caracterizado pela liberdade, não quer subjugar, dominar, sabe que aquele Menino que tão amorosamente lhe chama de pai e lhe é submisso, não é “seu”, mas do Pai. A lógica de Deus é a do amor, que nos permite até rejeitá-Lo. José em sua vida manifesta a liberdade, o dom de si mesmo.

O Papa Francisco termina rogando a São José a graça da conversão, com esta oração:

Salve, guardião do Redentor
e esposo da Virgem Maria!
A vós, Deus confiou o seu Filho;
em vós, Maria depositou a sua confiança;
convosco, Cristo tornou-Se homem.

Ó Bem-aventurado José, mostrai-vos pai também para nós
e guiai-nos no caminho da vida.
Alcançai-nos graça, misericórdia e coragem,
e defendei-nos de todo o mal. Amém.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Castidade: uma virtude para todos

 


            Aqueles que fizeram catequese para primeira Comunhão, Crisma ou até Batismo, devem saber que o Sexto Mandamento da Lei de Deus é “não pecar contra a castidade”. Mas afinal, que é castidade? É coisa de padres e freiras, não é? Sim. Mas também de todos os outros cristãos! Deus chama todos nós, no próprio estado de vida, a vivermos amando de forma pura, para que, um dia, possamos chegar a vê-lo, segundo as palavras do Salvador: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.”(Mt 5, 8)

            Agora que sabemos que todos somos chamados a viver a santa pureza, temos ainda mais interesse em saber do que se trata ela. Pois bem, podemos definir a pureza como um desinteresse, uma despreocupação de si mesmo. Àqueles que saltaram da cadeira por acharem esta definição estranha, peço calma, porque irei explicar. Viver de maneira pura, amar castamente é “amar como Jesus amou”, como diria o Padre Zezinho. E como Jesus amou? Desinteressadamente. Quando fazia algo pelos outros, não tinha segundas intenções, não queria senão ajudar e fazer o bem. Claro que Ele não deixava de cuidar de si, porque também o amor a nós mesmos é exigido por Deus, já que temos que amar o próximo como a nós mesmos. Mas todos os atos de Jesus eram de um amor puro e desinteressado: ao realizar milagres, expulsar demônios, arrastar multidões, não procurava dinheiro, prazer ou fama, mas, repito, fazer o bem.

            É claro, então, que os pecados contra a castidade que conhecemos, como o adultério, a fornicação, a masturbação, são extremamente condenáveis, pois são diametralmente opostos ao valor evangélico (não no sentido de protestante, mas de “do Evangelho”) da pureza. Nestes pecados, o homem age com um egoísmo extremo em busca do prazer, seja usando o corpo de alguém que é imagem e semelhança de Deus, seja fechando-se em si mesmo. Assim, quem comete estes pecados, fica impossibilitado de ser morada para o Deus que é todo Amor, todo Doação, até que receba o perdão sacramental pelo Batismo ou pela Confissão. E, sem poder ser morada para Deus, também não vai poder contemplá-Lo depois da morte, perdendo sua salvação e caindo, infelizmente, no Inferno, para onde vão as almas que não souberam encontrar sua felicidade em Deus.

                    "Mas se a castidade é não fazer sexo, como ficam os casais? Vão todos pro Inferno?" Aí está uma grande confusão: castidade não é, necessariamente, ausência de sexo. Aqueles que se entregam completamente a Deus e decidem não casar, como os padres e as freiras, vivem o celibato, este sim é a abstinência total de sexo e de algumas relações afetivas que não condizem com o estado de vida que escolheram. A castidade, porém, não se restringe somente ao celibato. Os casados também devem vivê-la, segundo seu próprio estado de vida, na fidelidade e no respeito mútuos.

            Mas vejam: a pureza vai muito além do “não” aos pecados da carne. Como dizia, ela consiste neste desinteresse de si mesmo e para vivê-la de maneira mais perfeita, da maneira como Jesus quer que vivamos, é necessário que este desinteresse se manifeste concretamente em nossa vida, através de nossas obras. Lavar uma louça em casa para agradar os pais, dar uma pequena moeda a um pobre e até mesmo rezar para agradar a Deus, para estar junto Dele porque isto O alegra são manifestações de uma santa pureza também, porque nesses momentos fazemos coisas para os outros, despreocupando-nos de nós mesmos.

            A pureza encarada dessa forma é, também, o segredo da felicidade, porque, segundo Santa Elisabete da Trindade e Santa Teresinha, este consiste em “despreocupar-se de si mesmo”. Quantas tristezas e angústias não nos vêm por causa da nossa excessiva preocupação com nosso bem-estar! Novamente, não digo que não cuidaremos de nós, mas que não devemos fazer isso com excessiva preocupação. Entreguemo-nos a Deus! Façamos a nossa parte, claro, mas nossa agonia em nada vai melhorar nossa situação de doença física ou mental, de crise financeira ou mesmo de pecado. Sim, mesmo os nossos pecados não devem nos inquietar. Acaso seremos nós mesmos nossos redentores? Não! Cristo nos redimiu e há de nos santificar! Portanto, não nos inquietemos!

            Parece estranho até para mim até onde nos trouxe nossa conversa sobre pureza. Mas consigo enxergar em todas essas situações um motivo para falar dela. Peçamos ajuda à Santíssima Virgem e ao Santo Patriarca José, grandes exemplos de castidade, para que possamos imitá-los em sua grande pureza. Deus abençoe a todos!

sábado, 26 de dezembro de 2020

O orgulho e a humildade do homem

 


Entre o Natal e a celebração da Sagrada Família, duas festas que ressaltam a humanidade de Jesus, escrevo este pequeno texto para falar sobre a nossa humanidade, que Ele quis assumir, e da alegria que brota do orgulho e da humildade de que nos preenchemos se contemplarmos bem o que é pertencer a este gênero, a esta raça: a dos homens.

O orgulho de ser homem

Já falei várias vezes e torno a repetir que Deus nos ama pessoalmente. Este é um grande motivo de orgulho para qualquer homem, especialmente para os batizados, e traz consigo grande alegria. Quando contemplamos que Deus nos criou à Sua imagem e semelhança e que, pelo Batismo e pela Confissão, nos devolve a semelhança que o pecado nos tirou e que, para nos dar isto, assumiu nossa natureza e morreu numa cruz, pensando em cada um e sabendo que Ele faria o mesmo sacrifício por um só ser humano, só por mim, podemos nos encher de um santo orgulho, porque somos amados a tal ponto por Deus. Valemos o sangue de Deus! Este é o nosso preço!

Ainda podemos pensar na nossa unicidade: Deus não criou absolutamente ninguém igual a outro. Somos todos únicos e temos algo que somente nós podemos dar ao mundo. Assim, podemos novamente encher-nos de santo orgulho ao considerar a nossa importância pessoal para Cristo e para o mundo. Este é o orgulho de sermos quem somos. Não simplesmente de sermos pessoas, mas de sermos esta pessoa em especial, esta que Deus criou diferente de todas as outras, com seus defeitos e limites, mas que é muito amada e muito importante para Ele.

E dessa grandeza que tem o homem, deve brotar uma intensa alegria e confiança em Deus. Nunca devemos nos sentir abandonados ou fracassados, muito menos sem esperança. Nascemos todos para dar certo. E dar certo é ser feliz, sermos amigos de Deus. Assim que vemos se uma vida valeu a pena, se uma pessoa é bem-sucedida: se ela é amiga de Deus. Pode ser pobre ou rica, feia ou bonita, inteligente ou não. O que importa é que seja amiga de Deus. Assim, sua vida se preenche de sentido e de valor. E a nossa amizade com Deus cresce na medida em que amamos e nos deixamos amar. Quanto mais amamos a Ele, ao próximo e a nós mesmos (com um amor ordenado, não egoísta), mais amigos ficamos de Deus, mais felizes nós somos e mais aumenta a nossa grandeza. Não pelas nossas próprias forças ou méritos, mas pela graça divina.

A humildade do homem

Agora, não podemos deixar que este santo orgulho se degenere num sentimento luciferino, de singularidade e de especialidade, de ser melhor ou mais importante que os outros. Não podemos cair nesta tentação. Vede como nasceu e viveu Cristo nos seus primeiros 30 anos de vida: como um homem comum. São Josemaria Escrivá tanto falou sobre isso... Os anjos faziam festa no céu pelo seu Nascimento, mas aos olhos dos homens (salvo a alguns que receberam revelações especiais: os reis magos e os pastores), era só uma criança pobre que não tinha onde nascer e, mais tarde, o filho do carpinteiro.

Fujamos à tentação da singularização, da especialidade. Sejamos homens e mulheres comuns, conscientes, sim, da própria grandeza, mas também dos nossos limites e fraquezas. Não digo para não sermos ambiciosos e procurarmos, por amor a Deus, sermos os melhores na escola, na faculdade, no trabalho. Mas sejamos pobres e reconheçamos a nossa pequenez e nossa debilidade. Quando o fazemos de verdade, longe de sentirmos tristeza, fracasso ou sermos abatidos por um grande peso, somos libertados dos grilhões do egoísmo, da procura pelo centro da atenção nossa e alheia e somos tomados por grande paz, alegria e liberdade interior. Podemos pensar, com muita leveza: “sou um homem comum e amado por Deus”. Não vamos nos surpreender com nossas faltas, apesar de sofrermos por elas, porque saberemos da nossa baixeza e, quando não estamos muito altos, caímos “menos feio”, segundo o ditado: “quanto maior o tamanho, maior a queda”.

Livrando-nos disso, não assumiremos responsabilidades que não podemos cumprir, muito menos exigiremos de nós mesmos coisas que não estão ao nosso alcance de realizar. Seremos mais razoáveis e, novamente, livres! Esta liberdade é muito saborosa. É a liberdade do cristão livre de escrúpulos, de maquinações inúteis, mas também cheia de responsabilidade, mas de uma responsabilidade que não esmaga e não oprime, porque é humilde.

 

É muito importante contemplar com alegria a nossa humanidade, porque Deus quis fazer-se homem. Espero que este pequeno texto tenha ajudado nesta tão árdua tarefa! Deus abençoe a todos! Um feliz Natal e uma santa solenidade da Sagrada Família!

São José na Sagrada Escritura

  São José é mencionado nos Evangelhos apenas 14 vezes, em cerca de 43 versículos (Mt ...